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Caso dos refugiados. "Portugal mostrou que o problema existe"

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Caso dos refugiados. “Portugal mostrou que o problema existe e não tem medo de Moscovo”

13 mai, 2022 • Celso Paiva Sol


A forma como Portugal está a acolher milhares de refugiados ucranianos, a polémica de Setúbal e o envelhecimento da população foram temas em debate no programa “Em Nome da Lei” desta semana, com Pavlo Sadoka e André Costa Jorge.

O presidente da Associação dos Ucranianos, Pavlo Sadoka, elogia Portugal pela forma corajosa como está a tratar a polémica em torno do acolhimento de refugiados em Setúbal por parte de pessoas com ligações a Moscovo.

Em declarações ao programa “Em Nome da Lei” da Renascença, diz que o problema é global, mas nem todos os países têm reagido da mesma maneira.

Pavlo Sadoka admite que esta associação pró-russa de Setúbal já poderia ter sido travada há mais tempo, mas, ainda assim, diz ser importante que esteja agora a ser afastada dos refugiados.

“Este caso que nós acompanhamos e denunciamos, é um processo global que encontramos em todos os países onde atuam aqueles serviços de propaganda, e serviços secretos russos. Eu acho que Portugal teve coragem de descobrir isto. Teve coragem de mostrar isto e que não tem medo de Moscovo, que persegue os seus opositores em todo o mundo. Portugal mostrou que este problema existe”, afirma o presidente dos Ucranianos em Portugal.

O líder associativo reafirma que o caso de Setúbal podia ter sido evitado se os seus alertas fossem tidos em conta pelas autoridades portuguesas.

“Claro que podíamos ter descoberto isto antes, porque nós avisamos. O primeiro aviso foi em 2011 e temos documentos que o provam. E podíamos ter evitado que Igor Khashin tivesse contactado 160 refugiados ucranianos”, sublinha.

O presidente da Associação dos Ucranianos em Portugal garante à Renascença que o risco é real para os familiares e amigos dos 160 refugiados “recebidos” em Setúbal.

Pavlo Sadoka diz que os russos usam mesmo esse tipo de informação para perseguir quem ainda está na Ucrânia.

“Sabemos que os russos fazem listas de todos, não escapa ninguém de todos os que estão a lutar contra eles. Temos a experiência das cidades que já foram ocupadas. Depois de controlarem as cidades e as aldeias, andam brigadas com as listas, e as pessoas que constam dessas listas ou desaparecem ou estão mortas”, relata.

Maioria dos refugiados quer regressar à Ucrânia

“Outra questão perigosa é que estes homens, irmãos, conhecidos destas mulheres e crianças que estão cá, estão na linha da frente dos combates. E como esta guerra também é uma guerra tecnológica, sabendo-se os números de telefone consegue-se fazer muita coisa para atacar esta pessoas. O perigo é real”, adverte.

O processo de acolhimento de refugiados ucranianos esteve em análise no “Em Nome da Lei” desta semana.

Questionado sobre as perspetivas de curto/médio prazo para as 36 mil pessoas que já chegaram a Portugal, Pavlo Sadoka acredita que a esmagadora maioria quer regressar o quanto antes à Ucrânia. Não só os que estão no nosso país, como todos os outros espalhados pela Europa.

“O que nós já sabemos, por exemplo através do apoio psicológico que estamos a dar aos refugiados, é que a maioria não quer ficar cá muito tempo, para já. Eles querem, o mais depressa possível, juntar-se às famílias na Ucrânia.”

Pavlo Sadoka dá o exemplo de um inquérito avançado recentemente por uma televisão ucraniana, segundo o qual, “dos seis milhões de pessoas que já saíram da Ucrânia, apenas 3% querem ficar no país que o acolheu. Os outros 97% querem regressar à Ucrânia”.

Também convidado do ”Em Nome da Lei” desta semana, o coordenador da Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR) diz que esta crise humanitária veio demonstrar, uma vez mais, que a Europa não está preparada para problemas como este.

André Costa Jorge considera que “a Europa tem que criar condições e tem que as manter para o futuro”, até porque está a envelhecer e precisa de imigrantes.

“Portugal é um dos países mais envelhecidos do mundo, temos um desafio demográfico sério. Temos que nos empenhar todos na capacidade que temos de renovação da sociedade portuguesa. E já percebemos que não basta, por muito boas que venham a ser as políticas de natalidade, mesmo assim vamos precisar de população migrante a viver e a trabalhar em Portugal”, defende o também diretor do Serviço Jesuíta aos Refugiados.


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