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Opinião de André Alves
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Opinião Católica-Lisbon

Entre promessas e premissas do marketing político

23 set, 2024 • André Alves • Opinião de André Alves


Atual cenário obriga ou pelo menos torna evidente a necessidade de regulamentação e vigilância do uso das tecnologias. Não podemos acreditar que as eleições democráticas são apenas uma ilusão, como diria Jean-Jacques Rousseau, mas sim a maior arma que permite dar a voz a todos aqueles que sem isto, seriam invisíveis.

Findo o Verão, as preocupações que fizeram pausa neste período ressurgem com mais força e pujança do que seria de esperar. Para os americanos e para os brasileiros, acresce a dinâmica das eleições, que como todos nós sabemos, são caraterizadas por vários aspetos, mas aquele que parece mais transversal é o impacto que estas causam na sociedade civil como um todo.

Já se viu de tudo, já se viu políticos de esquerda, de direita, uns mais liberais outros mais conservadores, mas todos, quase sem exceção, centram o seu discurso em promessas vazias que desagradam àqueles que os ouvem.

Opiniões à parte, a dificuldade de perceção da audiência pode não estar relacionada apenas com os partidos, mas sim por todo o marketing que rodeia estas grandes campanhas eleitorais.

No dia 5 de novembro as eleições americanas determinam quem será o próximo presidente americano, o repetido Donald Trump ou Kamala Harris, que fizeram e continuam a fazer destaque nos principais jornais mundiais. Politiquices à parte, o propósito deste artigo é compreender, numa altura como esta, a dimensão que o marketing político assume nos dias de hoje.

Uma das suas estratégias é tirar partido das grandes evoluções tecnológicas, nomeadamente a inteligência artificial (IA), para partilhar notícias falsas, "fake news", cruciais para disseminar conteúdos que não correspondem à verdade, e que muito afetam tanto os candidatos políticos como a perceção que a sociedade tem destes.

Neste jogo, onde parece valer tudo, as vantagens desta inovação são mais que muitas. Através de algoritmos avançados, é possível analisar vastas quantidades de dados que permitem direcionar a mensagem ao público-alvo que pretendem atingir, criando um perfil ajustado aos comportamentos, necessidades e preferências de cada indivíduo.

Este processo, apelidado de "microtargeting", permite aumentar exponencialmente a eficácia das campanhas, como se conseguiu verificar, nas eleições de 2016 de Donald Trump.

A combinação destes fatores em muito prejudica o processo democrático que é alvo de fatores externos, e nem sempre verdadeiros, que promovem a desconfiança dos eleitores junto dos candidatos. Infelizmente não são só às "fake news", que a inteligência artificial recorre. Uma outra modalidade que tem ganho espaço e terreno no marketing político é o "deepfake". Para os mais desatentos ou até leigos na matéria, trata-te de vídeos manipulados capazes de colocar candidatos a fazer ou até mesmo dizer algo que não corresponde à verdade. Numa era onde os conteúdos em vídeo ganham particular relevância pela mitigação da necessidade de entretenimento, este tipo de solução permite criar a desconfiança, independentemente de corresponder ou não, à verdade.

É neste contexto que estamos a viver, o que torna o processo democrático pouco isento, permitindo que a máquina política trate mais dos interesses ou lobby do que as políticas per si. Este cenário obriga ou pelo menos torna evidente a necessidade de regulamentação e vigilância do uso destas tecnologias.

A Comissão Europeia tem dados alguns passos, ainda que a uma velocidade reduzida, neste sentido. As propostas passam por leis mais rigorosas, responsabilizando as plataformas digitais pela disseminação de conteúdo falso, mesmo sabendo que a quantidade de curadoria necessária é gigantesca.

A ressalva mais latente deste artigo, e em género de resumo, é a importância de proteger a democracia, impedindo a manipulação da opinião pública, para que esta tome decisões acertadas e isentas. A essência de uma eleição, é e deve continuar a ser, um direito de cada um de nós, sem implicação dos bastidores que coabitam os grandes grupos políticos.

Não podemos acreditar que as eleições democráticas são apenas uma ilusão, como diria Jean-Jacques Rousseau, mas sim a maior arma que permite dar a voz a todos aqueles que sem isto, seriam invisíveis.


André Alves, Brand & Digital Marketing Diretor da Católica Lisbon Business School & Economics

Este espaço de opinião é uma colaboração entre a Renascença e a Católica-Lisbon School of Business and Economics

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