18 jun, 2022 • José Bastos
Distintas e abundantes variáveis globais com consequências diretas no mundo ocidental estão a aumentar o grau de incerteza a cada dia que passa, levando inúmeros analistas a afirmar que o ponto já é de viragem no ciclo económico.
A insistente pressão na inflação, a ruptura nas cadeias de abastecimento globais e, mais recentemente, a guerra na Ucrânia são alguns dos fatores a alimentar um quadro indefinido, problemático e, nalguns casos, difícil de antecipar com razoável precisão.
É verdade que na história nunca as economias mais avançadas haviam tido uma taxa de inflação tão baixa e estável como nos últimos 25 anos. Até no exemplo da crise financeira de 2007-2008, o sucesso do BCE no controlo da inflação não impediu que a política monetária do guardião do euro estimulasse a economia, evitando males maiores.
Mas agora o BCE tem de agir. Christine Lagarde anunciou a decisão de terminar com o programa de compras da dívida pública, de países como Portugal, no mercado secundário e de subir as taxas de juro de referência nas próximas reuniões de julho e setembro. A decisão da sra.Lagarde causou uma turbulência tão expressiva nos mercados que na última sexta-feira o BCE teve de reunir de emergência face ao disparo dos juros de dívida pública e de spreads na zona euro.
A situação mais dramática foi a italiana, com os juros nos títulos a 10 anos a ultrapassar a barreira dos 4% o que já não se registava há mais de oito anos na terceira maior economia do euro e a segunda mais endividada. No caso português, os investidores pediram os juros mais elevados em cinco anos e o prémio de risco disparou para o valor mais elevado do ano. As previsões apontavam para que em 2023 os juros da dívida pública portuguesa tocassem a ‘linha vermelha’ de 7% nos juros a 10 anos (7% era o limite para um resgate em 2010, na opinião do ex-ministro Teixeira dos Santos).
Face a este quadro de receio dos mercados isolarem Itália, Espanha, Grécia e Portugal, o BCE decidiu usar dinheiro da dívida pública destes países para reinvestir em nova dívida e anunciar a criação de uma espécie de ‘escudo’ anti-spreads de que se desconhecem ainda os detalhes mais substantivos.
Que consequências terá a viragem do ciclo económico para Portugal, país a ter de gerir uma enorme dívida e com problemas de competitividade?
A análise é de de Nuno Botelho, jurista e presidente da ACP-Câmara de Comércio e Indústria do Porto, Miguel Leichsenring-Franco, gestor, ex-presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Alemã e e de João Loureiro, economista e professor da Universidade do Porto.