19 set, 2021 • José Bastos
O discurso sobre o estado da União, não foi apenas uma oportunidade para fazer um balanço da gestão europeia da pandemia e da crise económica, mas também uma ocasião para desenhar os desafios futuros da Europa.
A pandemia e a disrupção causada no comércio e nas cadeias de valor acentuaram as vulnerabilidades europeias que, na visão de Ursula von der Leyen, devem ser superadas para tornar a UE um ‘player’ mais autónomo no cenário mundial. Uma prioridade também à luz da dinâmica a 30 anos.
Que UE queremos em 2050? As tendências do futuro são o ponto de partida para a autonomia estratégica da União Europeia, de acordo com o, pouco divulgado, Relatório de Estratégia Prospetiva 2021, publicado a 8 de setembro. O documento traça a estratégia para a construção de uma Europa mais assertiva e capaz de competir com China e Estados Unidos apresentando as diretrizes que vão marcar o cenário global nas próximas duas décadas.
Desde logo, as alterações climáticas, com o aumento das temperaturas globais a ter impacto nas atividades humanas desde a segurança alimentar às pressões migratórias. Mas também a transição digital global é um desafio, porque a UE perde espaço para EUA, China, Japão e Coreia do Sul em pesquisa e inovação. O mesmo se aplica nas tecnologias quânticas.
De complexidade extrema são as futuras dinâmicas demográficas que ajudam a mudar o centro de gravidade económico (e geopolítico) global: se em 2020 a UE representava 5,7% da população mundial, em 2050 será de apenas 4,3% face a 16,8% da Índia e 14,4% da China.
O declive demográfico levará ao declínio económico: em 2050 a UE responderá por 11,3% do PIB global, uma queda enorme dos 18,3% de 2019. Em 2050, juntos EUA e UE caem de 53% para 26% do PIB global, de mais de metade para 1/4. Por último, na erosão progressiva da democracia global a UE identifica mais um fator de instabilidade política e económica.
A análise é de Nuno Botelho, empresário, presidente da ACP - Câmara de Comércio e Indústria, Manuel Carvalho da Silva, sociólogo, professor da Universidade de Coimbra e João Loureiro, economista, professor da Universidade do Porto.