22 jul, 2023 • Ana Catarina André
A ideia nasceu numa conversa com o orientador de mestrado. Filipa Rocha, engenheira informática, ainda não tinha escolhido o tema para a tese, quando o professor a alertou para uma realidade que, até então, desconhecia.
“Mostrou-me que existem brinquedos e sistemas educativos que não são acessíveis a crianças com deficiências visuais”, conta a investigadora de 27 anos que, desde então, se dedicou a apresentar uma solução para o problema.
Em entrevista à Renascença, no podcast “Bolsa de Futuro”, Filipa Rocha conta como a partir de um conjunto de peças e um pequeno robô criou um sistema inovador que permite que as crianças com algum tipo de dificuldade visual aprendam programação e adquiram competências digitais.
O projeto valeu-lhe o segundo lugar do Prémio Inventor Europeu 2023, na categoria Jovens Inventores, lançado pelo Instituto Europeu de Patentes.
“Sempre achei que devíamos ter todos as mesmas oportunidades e trabalhei para isso”, afirma, considerando que, nos últimos anos, a escola em Portugal se tem tornado cada vez mais inclusiva, ainda que continue a haver margem para progredir.
“Algumas ferramentas que estas crianças usam acabam por deixá-las muito focadas e a trabalhar sozinhas”, diz, alertando para um dos aspetos que é preciso melhorar.
“Pôr a informática ao serviço da ação social”
Por ter um pai informático, Filipa Rocha habitou-se, desde cedo, a lidar com computadores – aos 8 anos, já sabia fazer powerpoints.
Paralelamente, começou também a fazer voluntariado. Conheceu a associação Cova do Mar, uma organização que atua no Bairro do Torrão, em Almada, e aí descobriu que “existem crianças que merecem tudo e não têm metade”.
Um choque que renovou o seu empenho em diminuir desigualdades sociais e que contribuiu para que quisesse “pôr a informática ao serviço da ação social”. Acabaria também por colaborar com a Just a Change, que trabalha na área da reabilitação habitacional.
Neste momento, Filipa Rocha dá aulas no Instituto Superior Técnico. Está a fazer o doutoramento Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, e quer continuar a desenvolver o sistema que criou – e que lhe valeu um prémio – para que possa ser usado em sala de aula. “O meu objetivo é que seja acessível a todas as crianças.”