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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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​Belmiro de Azevedo e a independência

29 nov, 2017 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Francisco Sarsfield Cabral, jornalista da Renascença e ex-director do "Público", destaca a "nula interferência editorial" de Belmiro de Azevedo no jornal de que era proprietário.

Morreu um dos grandes empresários portugueses do Portugal democrático, posterior ao 25 de Abril. De origem humilde, tornou-se um dos homens mais ricos do país.

Nesta terra onde secularmente predomina a dependência em relação ao Estado, nomeadamente da parte de empresários e gestores, Belmiro era um homem ferozmente independente, que quase tinha gosto em colocar o Estado em tribunal. O seu “império” empresarial, que criou milhares de empregos, nada ficou a dever a favores de políticos, bem pelo contrário – basta pensar na OPA lançada em 2006 por Belmiro sobre a PT, frustrada pelo poder político (primeiro-ministro Sócrates). Tivesse ele ganho e a PT não teria chegado à desgraça presente.

Em 1990 surgiu, por iniciativa de destacados jornalistas, um diário que iria dar um impulso decisivo à melhoria da qualidade da Imprensa nacional: o “Público”. Mas esse grupo de jornalistas precisava de apoio empresarial – por isso recorreu a Belmiro de Azevedo, que aceitou.

Ao contrário do que tantas vezes se vê, em Portugal e no mundo, o proprietário do “Público” jamais interferiu na linha editorial do seu jornal. Posso testemunhá-lo pessoalmente, não apenas como leitor do “Público” desde o primeiro número, mas também como director que fui daquele jornal durante breves meses – mas que chegaram para confirmar a nula interferência editorial do seu proprietário.

Creio que esta era uma atitude inteligente de Belmiro de Azevedo. Percebeu que, para o seu jornal ter prestígio e autoridade – como aconteceu –, precisava de o livrar de quaisquer suspeitas de ser um instrumento para os fins empresariais, ou outros, do seu proprietário. Portugal deve a Belmiro de Azevedo ter tantos anos financiado um jornal como o “Público”, sem dele se servir para os seus negócios.

O primeiro trabalho de Belmiro na Sonae. "Destruir para recriar"
O primeiro trabalho de Belmiro na Sonae. "Destruir para recriar"
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  • Amora
    30 nov, 2017 Fig Foz 13:30
    Cortaram o meu testemunho sobre uma faceta pouco conhecida, porque sistematicamente abafada, do Belmiro Azevedo..., o que é lamentável e revela a censura de uma rádio que se diz católica..., faz-me lembrar o PRAVDA.
  • Alexandre
    30 nov, 2017 Lisboa 07:21
    Francisco Sarsfield Cabral, comentador «de serviço» da Renascença.
  • Pedro Silva
    29 nov, 2017 Lisboa 19:31
    Nula interferência editorial? Essa é muito boa.