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Opinião de Manuel Pinto
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​Catalunha: jornalismo e verdade

09 out, 2017 • Opinião de Manuel Pinto


Através das notícias ou dos conhecidos que tenhamos de cada um dos lados, vamos assistindo ao evoluir da situação, na expectativa de saber quem vai ganhar e quem vai perder.

Um excelente exemplo do papel decisivo e vital de um jornalismo documentado, crítico e plural é o actual enfrentamento entre a Catalunha e o governo de Madrid. Ainda mais para nós, que somos vizinhos de uma parte e de outra, e que partilhamos, parcialmente, uma história comum.

Para o poder político em Portugal trata-se de um assunto interno de Espanha. O que nos poderia pôr nesse lugar de espectadores neutros, mas ao mesmo tempo curiosos, de um conflito que sabemos como começa, mas não como acaba.

Através das notícias ou dos conhecidos que tenhamos de cada um dos lados, vamos assistindo ao evoluir da situação, na expectativa de saber quem vai ganhar e quem vai perder. Mas é claro que muitos de nós têm uma visão do que se passa, mais pró-Madrid ou pró-Barcelona, que formata e condiciona a interpretação de cada episódio. Somos, de certa maneira, dos que acham que não estamos em tempos de brexits e divisões, ou, pelo contrário, estamos ao lado do sonho independentista. Porventura, ficamos mais sensíveis à causa destes últimos com a brutalidade das polícias no dia do referendo.

As coisas não são, contudo, assim tão simples. E é aí que entra o papel do jornalismo. Quem se informa seguindo sobretudo as redes sociais deve ter em conta que estas tendem a devolver-nos aquilo que já sabemos ou, pelo menos, aquilo que já pensamos. Correlativamente tendem a desqualificar e mesmo silenciar aquilo que contraria os nossos gostos e pontos de vista. Mais preocupante, porém, neste processo da Catalunha, é ver grande parte dos principais meios de comunicação social perfeitamente alinhados ora com uma ora com outra das partes, assim reforçando e ampliando a lógica de facebooks, twitters, instagrams e quejandos. Tal alinhamento não se faz apenas através daquilo que se publica e deixa de publicar ou daquilo que se destaca ou secundariza. Traduz-se na contabilização de espingardas, na não discussão de todos os argumentos relevantes, na exacerbação da conflitualidade, no silenciamento dos que buscam o diálogo, na descontextualização histórica ou na redução dos problemas aos faits divers e aos atos das lideranças.

O jornalismo conduzido pela verdade de uma causa é necessariamente um jornalismo que sacrifica a causa da verdade.

Comentários
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  • Maria Matos
    09 out, 2017 beja 15:08
    O jornalismo isento é difícil, já por detrás do jornalista, tem a pessoa com as suas ideias e convicções. Mas num artigo como este, fiquei a saber nada. Tentou interpretar o que o jornalista faz ou deixa de fazer, e como nós que lemos as peças ficamos baralhados, por culpa desses mesmos jornalistas. Mas fique a saber que o seu texto. Bem que podia formular a sua opinião da cena politica. Mas não dizer nada, parecendo estar acima de uns e de outros é falar sem dizer nada.
  • Manuel Silva
    09 out, 2017 Pombal 14:59
    O alinhamento é tal que para as manifestações contra a independência são centenas de milhões e as a favor mobilizam umas dezenas.
  • ALETO
    09 out, 2017 Lisboa 13:35
    A Espanha é um país amordaçado pelo franquismo que o quis uno e indivisível, à conta de muitas mortes e daquele monumento horroroso conhecido por Vale de los Caídos. Na verdade, a Espanha não existe. Aquilo que existe é uma Ibéria, onde está Portugal, o País Basco, a Galiza, as Astúrias, a Andaluzia, a Catalunha... Esqueçamos a Espanha, esse mau exemplo de um país dominado pelo centralismo de Madrid, quase todo ele dominado pela região de Castilla La Mancha. A Ibéria não é de Castela. A Ibéria é livre de ser aquilo que bem quiser.
  • victor
    09 out, 2017 lx 10:28
    Dizer que manifestação contra o independentismo juntou um milhão (?) da catalães em barcelona, omitindo a vinda da espanhois de toda a Espanha em mais de cem autocarros...,é isto um bom jornalismo ?
  • Makiavel
    09 out, 2017 Mundo 10:00
    Texto muito bom. O jornalismo actual, cansado de ser quarto poder, aspira a tornar-se no primeiro deles.