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Manuel Pinto
Opinião de Manuel Pinto
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​A escola nos próximos 30 anos

24 out, 2016 • Opinião de Manuel Pinto


Dizia-se há dias, que continuamos hoje a ter uma escola que no essencial é a do século XIX, onde professores marcados pelo século XX leccionam alunos do século XXI.

Evocam-se este mês os 30 anos da Lei de Bases do Sistema Educativo, a peça legislativa que foi possível consensualizar entre as principais forças políticas em 1986, numa acção que ficou a dever bastante ao trabalho parlamentar do conceituado académico Eurico Lemos Pires.

Este importante diploma, que tem servido de referencial às políticas educativas de diferentes orientações, está a ser objecto de balanço para se colher da experiência vivida os ensinamentos possíveis e examinar de que forma e em torno de que matérias será possível olhar o futuro no campo da educação.

É desejável que este trabalho seja realizado com arrojo, com a participação da sociedade civil e que não se esqueça “as pessoas que moram nos alunos” da escola dos nossos dias. Afinal, são eles a razão primeira de ser deste serviço que a sociedade criou para a sua formação.

Dizia-se há dias, num debate ocorrido na Universidade do Minho, que continuamos hoje a ter uma escola que no essencial é a do século XIX, onde professores marcados pelo século XX leccionam alunos do século XXI. Quando se observa que a escola é uma instituição que carece de ser profundamente repensada, muitos apontam logo as tecnologias digitais como o principal indicador a prestar atenção. Sem descurar esse factor, entendo que as instituições educativas devem ser, antes de mais, espaços com ambiente humano e humanizador e não espaços concentracionários, anónimos, unidimensionais. Não vou atrás de modas ou de propostas demagógicas, mas julgo que uma escola que não cria (e se dota de condições para ter) espaços e tempos destinados a ouvir os alunos não cuida da dignidade deles. A educação deve preparar para a vida, mas tem de ser, ela própria, uma forma e um tempo de enriquecimento da vida pessoal e colectiva. A escola deve desenvolver competências para o trabalho, mas não pode descuidar o modo como trabalha e as condições em que o faz. Sou dos que pensam que há uma profunda mudança a fazer nas metodologias e também nos tempos e nos espaços da vida escolar. Não pode haver escolas apenas de aulas ou, pelo menos, de aulas no sentido tradicional. O menu de prato único nunca foi grande dieta. E, de resto, já passou o tempo em que na educação escolar se tirava um diploma que era carta de alforria para o resto da vida. Hoje o horizonte da formação é, incontornavelmente, o da vida inteira.

No ano em que se evocam também os 120 anos do nascimento e os 50 da morte do pedagogo Celestin Freinet, vale a pena não direi replicar as soluções que ele, no seu tempo inventou, mas cultivar o seu sonho de novos caminhos e novas práticas para fazer da passagem pela escola um tempo de crescimento “em idade, em sabedoria e em graça”.

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