14 mar, 2016
Em pelo menos dois encontros públicos, desafiou meios de comunicação ou associações do sector dos media a patrocinarem um estudo sobre o assunto e a convocar algum centro de investigação a meter mãos à obra. Aquele jornalista tem citado a pesquisa, já com largos anos, da iniciativa de uma rádio pública belga, que concluía que o cidadão comum desconhece o significado da maioria das palavras com que as notícias são apresentadas em público.
Se isto for verdade também entre nós – e nada indica que assim não seja – estaria encontrado um dos factores para o desinteresse no acompanhamento regular da actualidade. Um dos segredos da efectiva comunicação é que quem entra no jogo comunicativo se coloque no papel do interlocutor. O mesmo se diga para a informação. Quem se lembrou de colocar na rede de transportes públicos frases como “é obrigatório obliterar o bilhete” terá a noção que um termo como obliterar está seguramente fora do vocabulário corrente da maioria dos cidadãos? De resto, desde as bulas dos medicamentos às informações de diversos serviços (seguros, bancos, electricidade, etc), é frequentemente o discurso autocentrado que predomina. Isto para não referir o modo arrogante e hermético como as finanças se dirigem, habitualmente, aos contribuintes.
Mas, voltando às notícias, é sabido que a sociedade se complexificou e se especializou numa grande diversidade de campos e subcampos e cada um deles tende a ter o seu linguajar próprio. Mas quem tem de mediar a informação para o grande público deve ser capaz de traduzir os conceitos e os termos técnicos, a começar pelas palavras e expressões em inglês. Chega a parecer ser entendimento de alguns mediadores da comunicação pública, incluindo os jornalistas, que quanto maior for a dificuldade de compreensão do que difundem, maior será a qualidade.
O simplex (conjunto de programas de simplificação) nos serviços públicos é naturalmente de aplaudir. Mas deve envolver também a clareza e simplicidade da linguagem por eles utilizada. Neste contexto, a realização do desafio de Adelino Gomes, que não contradiz nem o rigor nem a qualidade da escrita, viria provavelmente dar fundamento e força a acções com tal direcção.