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Graça Franco
Opinião de Graça Franco
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Três cenários para a noite de domingo

02 out, 2015 • Opinião de Graça Franco


Afinal em que ficamos? A coligação já ganhou ou tudo pode ainda acontecer?

Afinal em que ficamos? A coligação já ganhou ou tudo pode ainda acontecer? Quem não tem na política o seu ramo de negócio tem, a dois dias das eleições, razões para estar baralhado. Valerá ainda a pena ir votar? Vale. Vale. Vale. Por todos os motivos e sobretudo por um: ficar em casa é delegar o voto próprio no do vizinho, sem nenhuma garantia de que esse vizinho tenha sequer a mesma preferência partidária. Não votar é tudo menos racional.

Votar é sobretudo um direito inalienável, mas abdicar de o exercer é, no mínimo, um indesculpável desrespeito por aqueles que à força de muita luta e sacrifício nos deram a possibilidade de viver em democracia, depois de 48 longos anos de voto “simulado” sem outra possibilidade de escolha que não fosse a de eleger os mesmos. E se isso é claro para a geração de mais de 50 é quase desconhecido das gerações pós 25 de Abril.

Para um cristão a coisa fia ainda mais fino. Há o dever grave de participar na vida da cidade. Deve-se a César, não apenas o pagamento atempado dos impostos, mas também a participação activa na escolha dos representantes do povo que nos irão governar. Tudo repassado pelo crivo da liberdade da consciência própria numa escolha ponderada por uma grelha de análise que não nos deixa limitar a considerar o interesse próprio mas impõe antes de mais a consideração do bem comum.

Uma análise a que não pode faltar, como bem lembrava a recente nota da Comissão Nacional Justiça e Paz, a consideração das “medidas de apoio económico e social aos mais vulneráveis", bem como a prioridade que lhes é concedida, ou o passar em revista de áreas importantes como a educação a saúde ou a própria família. Sabendo que os valores do Evangelho não estarão por inteiro vertidos em nenhum programa, mas nem esse facto não nos dispensará da responsabilidade de optar por um. Depois é simples: por um voto se ganha e por um voto se perde e esse voto decisivo nunca será o de outro, mas o nosso.

Não valem as desculpas do futebol, ou da chuva que se anuncia, do cansaço, da desilusão, do "para quê, incomodarmo-nos se são todos iguais?". Tudo isso pode traduzir-se em voto branco ou nulo, mas nunca se traduz no comodismo cobarde de fugir à responsabilidade da escolha traduzido em não votar.

Dito isto, o que é que afinal já sabemos sobre as eleições de 2015 e nos convirá reflectir no tempo que nos resta? Já saberemos tudo? Não. Sabemos pouco, tão pouco que a única certeza mesmo é a de que os estudos pós-eleitorais sobre o comportamento dos eleitores nas eleições de domingo serão a vários títulos fascinantes. E esse interesse aplica-se a qualquer cenário eleitoral resultante da noite do próximo domingo. Vamos a eles começando pelos mais surpreendentes:

Cenário 1: Surpresa das surpresas. O PS derrota as sondagens e por “poucochinho” ou de forma ainda mais extraordinária por “ muitinho” acaba por ganhar e o “falhanço” das previsões torna-se a notícia da noite.

Os estudos pós-eleitorais permitirão 'a posteriori' perceber se as próprias sondagens actuaram nesta campanha não como meros retratos de uma dinâmica de voto já em curso, e que lhes era alheia, mas como verdadeiros agentes de mudança, acabando por travar e inverter a dinâmica retratada e por ter influência decisiva no comportamento eleitoral. Espécie de antídoto contra um resultado eleitoral que não se deseja e porque é conhecido “em tempo útil” acaba corrigido nas urnas, impedindo a sensação da manhã seguinte.

Costa notou essa possibilidade quando, a três dias do fim, alertou para o risco de os seus eleitores acordarem no dia seguinte a pensar "ai se eu soubesse… eu teria ido votar ou votaria de outra forma". A questão é saber se o aviso ainda chegou em tempo ao seu próprio eleitorado em já aparente debandada.

Neste cenário que hoje se apresenta como altamente improvável no primeiro caso (vitória PS) e altissimamente improvável no segundo (com maioria) convirá ainda saber como funcionou o “voto útil” e quem foi afinal o principal perdedor.

Esse inesperado voto socialista foi sobretudo à custa do Bloco, enrolando a passadeira vermelha que levaria Catarina ao melhor resultado eleitoral de sempre, ou à custa dos outros pequenos partidos de esquerda ou, em última instância ainda, à custa do velho eleitorado comunista que, perante a ameaça da repetição do Governo de direita, não se resignou ao papel de “grilo falante” (espécie de consciência parlamentar da esquerda) que lhe reservava a retórica de Jerónimo, preferindo o mal menor da governação Costa na esperança da sua “esquerdização” a posteriori.

Cenário 2: Surpresa apenas: A coligação ganha, e com maioria absoluta.

Este cenário embora improvável, apesar da maioria, não seria nunca uma total surpresa e ampliaria apenas um fenómeno já detectado em sondagens anteriores em que a votação em urna no dia das eleições apenas confirma e acentua a tendência já enunciada pelas simulações de voto dos últimos dias de campanha.

Ou seja, a surpresa resume-se à já registada durante a campanha com uma nova força ganhadora (no caso, a perda da vantagem do PS para a coligação) e apenas se torna maior na noite eleitoral ao surgir a mesma tendência agora ampliada.

Aconteceu o mesmo em 2002 com a votação do CDS que começou em 5, passou a 7 a poucos dias das eleições e acabou em 9. Aconteceu também em 2011, quer com o PSD quer com o PS. O primeiro embalado no crescente de 35-37 acabou em 39 e o segundo continuou em derrapagem de 34-31 para acabar em 28.

Neste cenário, o Presidente da República dormiria descansado no domingo e podia até aparecer de surpresa nas comemorações do 5 de Outubro porque a única palavra que lhe restaria seria a de felicitar o vencedor.

Cenário 3: Sem surpresa. Todos reclamam vitória no dia seguinte. S. Exª recolhe-se em Belém para reflectir sobre o que já sabe exactamente que irá fazer mas lhe continua a dar dores de cabeça, e só dirá ao povo depois de 5 de Outubro. Confuso? Não tanto.

Neste cenário confirmam-se apenas as últimas sondagens. A coligação PSD/CDS ganha por poucochinho ou muitinho, mas não lhe chega para garantir a passagem do programa do Governo e, menos ainda, o Orçamento do próximo ano. As sondagens mostram-se certeiras, todas consistentes entre si, com amostras representativas e margens de erro ultrapassadas, dando à coligação vantagem mínima de cinco pontos, e apontando para uma vitória clara do PAF, embora sem maioria absoluta.

Jerónimo recorda os potenciais 12 pontos perdidos pela direita e clama vitória. O Bloco festeja o maior resultado de sempre e clama vitória. A coligação vence e clama vitória e Costa, se ainda estiver no largo do Rato engolindo a derrota, reclamará vitória argumentando com a liderança natural da maioria parlamentar da esquerda desunida.

Neste caso caberá aos investigadores, a partir de segunda-feira, tentar perceber o que justificou o comportamento eleitoral traduzido numa perda de mais de meio milhão de votos por parte da coligação a favor da abstenção, ou da esquerda radical ou da oposição mais ou menos folclórica mas, em todo o caso, concretizada na recusa da alternância do “centrão” e punindo pela segunda vez consecutiva o Partido Socialista.

Recompensa de Passos ou falhanço de Costa será afinal a grande questão. Em 2011, os estudos pós-eleitorais, levados a cabo pelo ICS, mostraram-nos que 2 em cada 3 eleitores e mais de 50% dos simpatizantes do Partido Socialista não votaram no partido por o considerarem o principal responsável pela situação de crise económica e o pedido de resgate. Quatro anos passados e depois de tanta austeridade, Costa ainda pagará essa factura de que surge como legitimo herdeiro? Por culpa sua ou do fantasma socrático? E este segundo castigo traduzir-se-á em quê?

Costa cai e sobe Assis? O PS livra-se finalmente da “tralha” socrática, envereda pelo modelo social-democrata, na linha Centeno mais moderado e mais conciliador, e abre caminho a uma solução estável viabilizando programa e orçamento? Ou, pelo contrário, Costa resiste e radicaliza à esquerda, abrindo caminho à deriva galambista que exige que a derrota se traduza em vitória, com uma improvável e instável aliança à esquerda.

Cavaco teria aí legitimada a sua insónia antecipada. O pior é que seria partilhada nessa noite pela maioria dos portugueses (vencedores e vencidos incluídos). O que nos faltava agora era cair em nove meses de instabilidade. E este é afinal o cenário mais provável. Por todas as razões e também por esta, no próximo domingo não deixe de ir votar.

Comentários
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  • Da honra
    02 out, 2015 Lisboa 20:23
    Também eu creio cada vez mais na maioria absoluta da Coligação. Depois de quatro anos de aturados esforços, a última coisa que os Portugueses querem é instabilidade. Se o Dr. Costa tiver o mesmo sentido de honra e a dignidade de António José Seguro, no caso de derrota sairá imediatamente da liderança do PS. A não ser que a falta de vergonha seja tanta, tanta que ainda procure agarrar-se ao poder como uma lapa. Cabe aos Portugueses votar de tal maneira que não lhe sobre qualquer veleidade de tentar contrariar a vontade de um Povo (que dispensa outra bancarrota) e impor a Portugal um novo PREC, coisa que horroriza a maioria de nós..
  • João Lopes
    02 out, 2015 Viseu 18:14
    Tanto na Grécia como em Inglaterra as sondagens falharam. Vai acontecer o mesmo em Portugal em 4 de outubro. A coligação vai ter maioria absoluta e A Costa abandona a liderança do PS, que parece um barco à deriva no alto-mar, a meter água…