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Furacão na banca nacional

17 fev, 2015 • Graça Franco • Opinião de Graça Franco


Vai ser interessante esperar para ver quem joga agora a próxima carta na OPA sobre o BPI. Quererá Angola perder influência no mercado nacional? Ou, pelo contrário, quererá ganhá-la a ponto de lançar também ela uma nova oferta concorrente subindo a parada? 

Se os espanhóis do La Caixa tiverem sucesso na OPA lançada esta terça-feira sobre o BPI e se a operação acabar por passar o crivo apertado das sucessivas autorizações dos reguladores (BCE, CE e Autoridade de Supervisão dos Seguros e Fundos de Pensões), o panorama bancário nacional arrisca-se a sofrer a maior alteração dos últimos anos, com a Caixa Geral de Depósitos a perder a liderança do mercado nacional para a nova instituição.

À primeira vista, a operação lançada pelo La Caixa (o quarto maior banco espanhol), ao propor-se comprar o terceiro maior banco privado português, a um preço que, logo à partida, garante quase 30% de prémio face à última cotação e com a garantia prévia de que continuará a apoiar a actual equipa de gestão, tem tudo para ser bem-sucedida ou, pelo menos, para provocar um autêntico furacão, forçando a recomposição da banca nacional. O BPI fica agora numa posição privilegiada para a compra do Novo Banco, o que com a desejada fusão posterior entre as duas instituições fará com que nasça um novo colosso.

Há, no entanto, ainda demasiadas perguntas sem resposta o que leva a crer que este é ainda apenas o tiro de partida para a corrida anunciada dos dois lados da fronteira. Para já os contribuintes portugueses podem ser os primeiros “ganhadores” porque o La Caixa, ao reforçar o seu interesse pelo Novo Banco, faz prever que este possa afinal ser vendido a preço muito superior ao esperado até ontem. Espera-se agora a reacção dos mercados e dos outros jogadores em campo.

É conhecida a estratégia de reforço que o La Caixa tem vindo a fazer no mercado espanhol desde 2010 com a compra sucessiva de cinco outros pequenos bancos onde se incluem por exemplo a operação do Barclays Espanha ou alguns bancos e caixas de caracter regional. Fora de Espanha, no entanto, esta parece ser a sua primeira grande tentativa de ganhar dimensão. Para o La Caixa ganhar dimensão interna e externa é também uma espécie de seguro contra as pretensões de domínio dos outros grandes de Espanha a começar no Santander e no BBVA, que também estudam formas de reforçar o seu peso no mercado europeu.

Em rigor, embora a operação seja lançada sobre a totalidade do capital do banco português, o sucesso passará mais por conseguir a alteração estatutária que hoje impede qualquer accionista de deter mais de 20% dos direitos de voto da instituição do que em obter ou não no mercado o número de acções suficientes para que se consiga atingir os desejados mais de 50% do capital do BPI.

Neste momento, o La Caixa já tem mais de 44% do BPI pelo que lhe bastaria conseguir no mercado uns escassos 6% para conseguir o objectivo em termos de reforço de capital. Ora, uma vez que mais de 12% do capital do BPI estão já dispersos por mais de 21 mil pequenos accionistas particulares, não é sequer necessário pensar na necessidade de negociar uma troca de posições com os outros grandes dois detentores de capital (o Grupo Allianz com os seus 8,4 ou a Santoro Finance com outros 19) para que a operação se torne possível, desde que estes estejam pelos ajustes na alteração estatutária.

Contudo, é aqui, sobretudo nas ambições de Isabel dos Santos (principal accionista da Santoro) que poderão surgir mais dificuldades. Quererá Angola perder influência no mercado nacional? Ou, pelo contrário, quererá ganhá-la a ponto de lançar também ela uma nova oferta concorrente subindo a parada? A situação em Angola não parece apontar para este cenário, mas ele não pode deixar de ser considerado. E, nesse caso, qual poderá ser a opção da actual gestão que tem com enorme independência e mestria coexistido com os vários accionistas de referência? Vai ser interessante esperar para ver quem joga agora a próxima carta.
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