20-04-2021 • Ana Marta Domingues
«Os que foram apanhados foram cortados aos bocados para que os que estavam escondidos ao verem isso a acontecer acabassem por aparecer… Mas conseguimos ficar em silêncio e eles acabaram por ir embora…».
Este é um dos muitos relatos de terror que a Irmã Mónica da Rocha, religiosa portuguesa em Lichinga, na província do Niassa, ouviu aos deslocados de Cabo Delgado.
Numa mensagem que fez chegar à Fundação AIS, a Irmã Mónica da Rocha, que pertence à Congregação das Irmãs Reparadoras de Nossa Senhora de Fátima, fala de um autêntico «filme de terror». À crueldade destes ataques terroristas que fez deslocar dezenas de famílias nas últimas semanas, juntam-se a fome, as doenças (com a cólera a alastrar e o número de mortes por Covid-19 a aumentar), e a miséria.
Desde Outubro de 2017 que tem sido assim em Moçambique, numa espiral de violência que tem crescido de forma quase imparável. Mais de dois mil mortos, cerca de 700 mil deslocados. Segundo os relatos que a Fundação AIS tem recebido e veiculado, quase todas as aldeias, vilas e cidades de Cabo Delgado são hoje povoações sem ninguém, devastadas pelo ciclone de destruição deixado pelos jihadistas.
Violência e horrores sem fim:
Num outro testemunho escutado pela Irmã Mónica e revelado agora pela Fundação AIS, contaram-lhe que os terroristas mandaram as crianças embora e depois «pegaram fogo às pessoas que não fossem muçulmanas e recusassem ser insurgentes e quem tentava fugir era morto a tiro…».
O ataque mais recente aconteceu na vila de Palma, situada no extremo norte da província de Cabo Delgado. Foi um ataque meticulosamente planeado. Começou a 24 de Março e prolongou-se durante dias, sinal da força dos homens de negro que usam a bandeira do jihadismo para justificar o terror mais bárbaro, e sinal também da fraqueza das autoridades que pareceram impotentes para contrariar este grupo armado que reivindica pertencer ao Daesh, o Estado Islâmico.
Uma semana depois do ataque à vila de Palma, o pároco local mostra o seu desespero pela falta de informações sobre o paradeiro dos cristãos, das pessoas que constituíam a sua comunidade. Quando o ataque começou, quarta-feira, dia 24 de Março, o Padre António Chamboco não estava em Palma. Foi à distância que acompanhou as notícias. Foi com impotência que foi sabendo da violência do ataque, das pessoas em fuga, dos corpos nas ruas.
«Quando ouvi esse ataque, o meu sentimento foi de dor. De dor porque já estava em Palma há um ano e já estava afeiçoado às gentes, à comunidade. Então, quando ouvi [as notícias] do ataque, o meu sentimento foi de dor e de tristeza….».
Gritos de dor que o mundo não ouve:
São povoações habitadas pelo fantasma do medo, são povoações queimadas que se transformaram em cemitérios a céu aberto dos que foram mortos a tiro, pelos que foram degolados pelas facas dos terroristas, pelos que foram raptados e que ninguém sabe onde estão, como estão, se estão vivos ou não. De Cabo Delgado chegam-nos gritos de dor, pedidos de ajuda, de socorro, mas o mundo continua surdo às lágrimas, ao luto, às feridas de dor. A Fundação AIS está, desde a primeira hora, a apoiar o esforço da Igreja junto destas populações deslocadas em Moçambique. Ajude a Fundação AIS também nesta missão.
Podemos ajudar a curar feridas em Moçambique:
O terço será a nossa arma:
Podemos hoje mesmo, todos juntos, salvar vidas em África. Comecemos por rezar, como nos pediu Nossa Senhora. A oração é uma forma real e concreta de ajudar quem sofre. E em África, o Terço poderá ser a nossa arma!
Junte-se à Fundação AIS: ligue agora 217544000, receba gratuitamente um terço em madeira feito na Terra Santa e abençoado pelo Papa Francisco.
Conheça os projetos da Fundação AIS nos países que sofrem por causa do fundamentalismo islâmico.
Saiba mais na Renascença:
Domingo de manhã, no Pequenas Grandes Coisas, a Dina Isabel e o António Freire vão dar-lhe a conhecer os projetos da Fundação AIS em África e a importância de todos rezarmos para salvar vidas.
Como nos diz o Papa Francisco, é possível “curar o mundo” com a força da oração.
Pode ajudar a curar feridas em África com a força da oração e a ajuda das várias organizações da Igreja nos locais como a Fundação AIS.
Um conflito sem fim à vista:
«Quase semanalmente chegam de Moçambique novas histórias de terror», afirma Ulrich Kny, responsável pelos projectos da Fundação AIS para países de África. Estas «histórias de terror» são sinal também do agravamento da crise humanitária que se está a viver em Cabo Delgado, a província situada a norte deste país lusófono e que tem sido palco de ataques terroristas.
Ulrich afirma mesmo que, para a Fundação AIS, Moçambique é um país de “prioridade máxima”. O objectivo é socorrer o maior número possível de pessoas, dar resposta aos pedidos de ajuda que chegam de Cabo Delgado. “Qualquer forma de auxílio ajuda a aliviar o sofrimento desta gente oprimida e desenraizada”, diz o responsável da AIS, sublinhando a importância do papel que a Igreja Católica tem desempenhado nesta província.
«A Igreja em Moçambique é uma âncora de esperança e caridade num mar de sofrimento e violência», diz Ulrich Kny face às consequências devastadoras dos ataques por grupos armados desde Outubro de 2017 e que têm reivindicado, desde há alguns meses, a associação ao Daesh, o grupo terrorista ‘Estado Islâmico’.
Uma tragédia a que se junta uma pandemia:
Como nos conta o responsável pelos projetos da Fundação AIS em África, além das consequências dos ataques terroristas, Moçambique está a enfrentar também a epidemia de Covid-19. E se numa primeira fase, o seu impacto foi «relativamente suave», agora, esclarece Ulrich, a situação agravou-se. «O número de pessoas infectadas disparou em Janeiro e é alarmante como o número de mortes aumentou.»
Além disso há também um número crescente de pessoas com cólera, em parte devido às condições catastróficas de higiene em que se encontram milhares de pessoas deslocadas.
Como é que a Fundação AIS tem materializado a sua ajuda a estas populações:
A Fundação AIS tem procurado desde a primeira hora ajudar o esforço da Igreja local no apoio às populações deslocadas, tendo concedido uma primeira ajuda de emergência no valor de 160 mil euros. “Graças a este apoio, os padres e as irmãs conseguem distribuir comida aos refugiados”, relata Kny.
Foi também iniciado um outro projecto para prestação de assistência psicossocial aos refugiados, pessoas que estão profundamente traumatizadas e que vivem um sofrimento inimaginável resultante dos ataques terroristas e de todas as situações que presenciaram. Mais de 120 pessoas receberam formação psicológica em Pemba para o acompanhamento destes casos.
A Fundação AIS também tem prestado ajuda de subsistência aos sacerdotes e irmãs, bem como tem financiado a formação de seminaristas e de religiosas, além de outros projectos relacionados com as necessidades mais prementes da vida da igreja em Moçambique.
O mais recente ataque aconteceu, em Nangololo, a segunda missão católica mais antiga da diocese de Pemba. Foi a segunda vez que esta missão foi atingida. Os terroristas chegaram a 30 de Outubro e ficaram por lá até 19 de Novembro. O Padre Edegard Silva, missionário brasileiro, que se encontra em Pemba, após a sua missão ter sido atacada e destruída, afirma que este ataque veio agravar ainda mais a vida das populações desta região, já de si muito pobres…
«Foi um ataque de uma proporção maior do que em Abril. Esse ataque acabou com tudo! Tudo virou cinza (…) Tudo o que construímos com muita dificuldade [casas, paróquia, rádio, escolas, creche, centro de formação, ambulatório dentário] foi tudo destruído. Tudo aqui em África constrói-se com muita dificuldade e com muita solidariedade internacional. Ver, de uma hora para a outra, tudo isso queimado… Fiquei em estado de choque e, humanamente falando, chorei muito… (…) Destruíram a cruz, uma cruz que é histórica lá para o povo, destruíram o pequeno santuário com a imagem de Nossa Senhora de Fátima… dá para perceber que estão mesmo fazendo isso como uma ofensa para os cristãos.»