Isabel Figueiredo
A afirmação repetida na intensidade de uma voz firme foi ecoando
no passar dos dias. Umas vezes como pergunta, outras como desejo,
outras ainda como se a dúvida se quisesse instalar,
quase escondida, como a vida se esconde nas conchas do mar.
«Estás vivo meu Jesus? É possível estares aqui, tão perto de mim que não Te veja,
tão dentro de mim que não Te sinta? É possível andares
pelas ruas, por detrás de cada porta, de cada janela?»
«Estás vivo meu Jesus?»
Procuro a resposta como quem precisa de matar a fome,
como quem suspira pelo sono da noite, como se tudo dependesse de mim.
Oh deixar-me guiar pelo não saber, deixar-me conquistar
pelo que não entendo, deixar-me estar na certeza de que sim,
haverá momentos, instantes, frestas de luz e de paz.
De mim só depende esta vontade de Te procurar, de Te encontrar.
Tudo o resto é Teu, bem sei.
Mais uma Quaresma, uma Páscoa, mais uma procura e um encontro.
Instantes, frestas de luz, capazes de me levar mais longe.