Emissão Renascença | Ouvir Online
Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
A+ / A-

​A farsa da modernização ferroviária

17 jul, 2019 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


A inauguração de 56 quilómetros de via férrea eletrificada revela sobretudo o desinteresse do atual Governo por este meio de transporte.

No princípio desta semana o primeiro-ministro inaugurou 56 kms. de via férrea eletrificada nas linhas do Douro e do Minho. Uma prova do empenho do governo socialista em promover a ferrovia em Portugal? Não, pelo contrário.

O PS passou os mais de dez anos dos governos de Cavaco Silva a reclamar contra a alegada “obsessão do cimento” (ou seja, as auto-estradas) e a exigir mais investimento no caminho de ferro. Mas, quando o PS foi governo, com A. Guterres e sobretudo depois com J. Sócrates, insistiu ainda mais nas auto-estradas e esqueceu o comboio. Esquecimento que o governo de A. Costa prolongou, levando à presente multiplicação de supressões de comboios e à degradação do material circulante e dos carris.

A três meses de eleições, era preciso mostrar algum serviço nesta área onde vemos tantas reclamações. Daí a inauguração de uns tristes 56 kms. de comboios a tração elétrica. Só que, como noticiou o “Público” na segunda-feira passada, não foi instalada a prevista sinalização eletrónica. Tudo continua a funcionar manualmente, com bandeiras e agulhas manejadas por funcionários, como no séc. XIX.

O troço Nine-Viana do Castelo foi eletrificado com 13 meses de atraso e o troço Caíde-Nine surge dois anos e meio depois da data prevista. Na linha do Douro são maiores os atrasos. No troço Marco-Régua a eletrificação deveria estar agora pronta, mas nem sequer foi aberto qualquer concurso.

Com todos estes atrasos, são limitados os ganhos de tempo para os passageiros e as vantagens para o ambiente destas pífias inaugurações. É mais uma manifestação do custo para os portugueses de uma austeridade disfarçada que logrou a redução do défice orçamental, mas esconde a que preço. O governo voltou a dizer que “virámos a página da austeridade”. É preciso ter lata…

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • Rui
    18 jul, 2019 Lisboa 09:59
    Devo relembrar que no ultimo Governo Socrates foi lancando um Concurso Internacional para aquisicao de novo Material Circulante, a saber, Longo Curso para reforcar as ligacoes com o Pendular, Regionais para a Linha do Sul, Algarve, Oeste e no Norte. E os Suburbanos para substituicao das actuais unidades da Linha de Cascais. Havia vencendores indicados para as 3 propostas. Depois veio o Governo PSD/CDS que cancelou estes 3 concursos e, a partir daqui nada mais se fez em termos de comboios de passageiros em Portugal. Portanto haja memoria. Se o PSD/CDS nao anulasse os 3 Concursos, hoje nao tinhamos falta de comboios em Portugal nem se alugavam comboios a Espanha. A bem da memoria do que se passou.
  • Cidadao
    17 jul, 2019 Lisboa 19:49
    Obviamente não há qualquer modernização ou aposta na ferrovia. É uma farsa só para o gov vir dizer que fez alguma coisa pela ferrovia. Evidentemente nada fêz, e só os fanáticos PS ou os com palas no olhos podem acreditar que sim. Mas claro, não há Oposição para desmontar estas tretas e se há, não está a fazer o seu trabalho.