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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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Ministros com óculos especiais

12 jul, 2019 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Enquanto o primeiro-ministro reconheceu que nem tudo está bem, há ministros seus que parecem alheios à realidade. Usarão óculos especiais?

No último debate parlamentar sobre o Estado da Nação, na quinta-feira, o primeiro-ministro fez um discurso de vitória, mas sensato. É verdade que, há quatro anos, muitas pessoas (nas quais me incluo) não acreditavam que um executivo apoiado por partidos (PCP e BE) que detestam a UE e as regras do euro fosse capaz de cumprir as exigências orçamentais de Bruxelas. Mas cumpriu, embora com azedas críticas desses partidos de extrema-esquerda.

Só que o equilíbrio das contas públicas foi conseguido, em grande parte, com cortes na despesa efetivamente gasta em vários serviços públicos (saúde, transportes, infraestruturas, segurança, etc.), cujo funcionamento se degradou. Consciente de que muitos portugueses percebem e sentem na pele essa degradação, A. Costa disse que, hoje, Portugal, embora esteja melhor do que há quatro anos, não é um oásis nem um país cor-de-rosa. Mas nem todos os seus ministros mostraram esse realismo prudente.

O ministro das Finanças, Centeno, falou em tom triunfal do equilíbrio das contas públicas (algo de facto inédito desde 1974) e desvalorizou qualquer crise no SNS dizendo que tinha havido um aumento de meios humanos e materiais colocados nesse Serviço. Porém, como é evidente, esses meios adicionais foram insuficientes num país em rápido envelhecimento. Os problemas no SNS têm-se multiplicado.

Ainda ontem, no relatório da primavera do Observatório dos Sistemas de Saúde, se fala em “legislatura perdida” por falta de reformas necessárias no SNS. E a ex-ministra da Saúde de um governo socialista, Ana Jorge, declarou que o SNS se encontra em “forte crise”.

Mas a atual ministra do setor, Marta Temido, não parece ver a realidade. Por isso afirmou à Renascença e ao “Público” que “há uma campanha contra o SNS, claramente”. Não percebe que os defensores do SNS são quem mais preocupado está com as crescentes falhas deste Serviço, que prejudicam sobretudo as pessoas com menos recursos. Talvez os ministros otimistas usem óculos especiais.

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