04 jul, 2019
Seguindo o exemplo de Trump de cantar vitória quando ela não existe, o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, apareceu triunfante no final da longa cimeira europeia que indicou os nomes que propõe ao Parlamento Europeu (PE) para os principais cargos da UE e do BCE. A Itália e o chamado “grupo de Visegrado” (Hungria, Polónia, República Checa e Eslováquia) conseguiram impedir que o socialista Timmermans chegasse a presidente da Comissão Europeia. Ele, como comissário, havia iniciado procedimentos contra a Hungria e a Polónia por antidemocráticas interferências do poder político na esfera judicial.
Mas Timmermans mantém-se, em princípio, vice-presidente da Comissão e não irá deixar cair a questão dos “iliberais”. Por outro lado, o “grupo de Visegrado” não obteve qualquer nomeação para os altos cargos europeus. E a Itália perdeu dois: Draghi e F. Mogherini, mantendo a presidência do PE na primeira parte do mandato para o socialista David Sassoli, sendo a segunda parte para o PPE.
O caso da Itália merece especial atenção. O governo italiano tentou evitar sanções de Bruxelas por causa do seu orçamento despesista para 2020, que já corrigiu. Face a esse recuo do governo italiano, a Comissão Europeia suspendeu ontem o procedimento por défice excessivo a Itália.
O mais grave problema italiano é outro: não é aceitável considerar legalmente criminoso quem salve refugiados de se afogarem no Mediterrâneo. Além de contrária ao direito do mar, esta desumana medida é escandalosamente anti-cristã. Ora Salvini afirma-se com defensor da cultura judeo-cristã, apresentando-se com um crucifixo ao peito… Há, ou deveria haver, limites para o cinismo.
Preocupante é, ainda, a complacência do PPE para com os extremistas de direita. A tentação de seguir políticas de extrema-direita para não perder votos, nomeadamente quanto à imigração, não tem beneficiado os partidos da direita democrática. Recorde-se Sarkozy e Le Pen. Ou veja-se quanto têm perdido, em Espanha, o Cidadãos e o próprio PP por causa da aproximação ao Vox.