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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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Boris, o Trump britânico?

21 jun, 2019 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Há diferenças e semelhanças entre Donald Trump e Boris Johnson. Infelizmente, as semelhanças são suficientes para nos inquietarem.

Tudo indica que o excêntrico Boris Johnson será o próximo primeiro-ministro do Reino Unido. Trump simpatiza com ele e tem repetido que Boris é a pessoa que deve chefiar o governo britânico.

Há diferenças entre Trump e Boris Johnson. Este último foi doutorado em Oxford, escreveu livros (entre eles uma biografia de Churchill), ocupou vários cargos governamentais e foi “mayor” (presidente da câmara) de Londres. Nada disto abrilhanta a biografia de Trump, um novato na política e um perigoso ignorante. O próprio Boris criticou violentamente, há anos, a ignorância de Trump.

O que aproxima Boris de Trump é a irresponsabilidade (evidente durante a campanha do referendo do Brexit, há três anos) e o gosto por provocar com declarações estapafúrdias e mesmo falsas. Não será, por isso, um primeiro-ministro fiável. Muda frequentemente de posição e, em vez de unir os britânicos, acentuará as divisões que hoje fraturam a política no Reino Unido e no próprio partido conservador.

Boris Johnson vai, provavelmente, conduzir o Reino Unido a uma saída sem acordo da UE, além de usar a ameaça de não pagar o que o seu país deve à Europa comunitária como arma negocial. É altamente improvável que a UE aceite renegociar o acordo de saída, mas essas manobras criarão um clima negativo quanto às futuras relações entre o Reino Unido e a Europa comunitária. Mais tarde ou mais cedo terá de haver um acordo entre a UE e o Reino Unido sobre as suas futuras relações.

Boris Johnson foi apoiado pela maioria dos deputados conservadores por causa da sua popularidade, temendo que o líder trabalhista, Corbyn, viesse a ganhar as próximas eleições. Infelizmente, a popularidade de Boris tem sobretudo a ver com a sua falta de convicções e o seu narcisismo (uma característica também de Trump). O perigo está em que, como escreveu Philip Stephens, diretor editorial do “Financial Times”, “é assim que a democracia liberal poderá morrer”.

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