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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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Tentar perceber

Comunicar, influenciar e informar

08 jun, 2019 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Na era da comunicação, que é a nossa, há coisas boas e outras nem tanto. Por exemplo, o “lobbying” precisa de ser estritamente regulado, para assegurar a transparência.

Vivemos numa época dominada pela comunicação, embora ela seja sobretudo transmitida por via elétrica e eletrónica e cada vez menos “cara a cara”. A crescente diminuição do número de cartas escritas, substituídas por “e-mails” e SMS, constituirá um problema para futuros historiadores que procurem fontes sobre o nosso tempo.

Recentemente, Carla Rocha, animadora da Renascença e formadora na área da comunicação, lançou um livro com um título “Fale Menos, Influencie Mais”. O livro dá a conhecer técnicas e ferramentas úteis para uma comunicação eficaz. É um bom instrumento de trabalho para qualquer comunicador.

O desejo de comunicar melhor não se restringe aos profissionais da comunicação. Para os professores, por exemplo, ou os advogados, no tribunal e fora dele, comunicar com eficácia é indispensável. Como será para médicos, face aos seus doentes e respetivas famílias, e em geral para quem lidera um grupo de pessoas – gestores de empresas, chefes militares, diretores-gerais, políticos, etc.

O mesmo se diga de quem gosta de ser afirmativo e eficaz nas conversas de todos os dias, sentindo que as suas opiniões contam junto de familiares e amigos. Comunicar mais e melhor é objetivo, consciente ou não, da maior parte das pessoas.

Agências de comunicação

Desde logo, é o caso dos jornalistas de opinião, como eu próprio, e de muitos não jornalistas que emitem opiniões nos media e nas redes sociais. Mas os jornalistas não apenas tentam influenciar quem os lê ou ouve. Eles próprios são, desde há alguns anos, alvo de outros influenciadores, como as agências de comunicação.

Estas procuram que certos eventos e certas posições dos seus clientes encontrem cobertura favorável nos meios de comunicação social. Por vezes estas empresas são demonizadas – creio ser injusto; os jornalistas é que têm de perceber que elas defendem os interesses dos seus clientes e são, portanto, necessariamente parciais. Como atuam as agências de comunicação face às redes sociais, confesso não saber. Essas redes são um meio que não frequento, provavelmente por ser demasiado velho para tal.

São muitas vezes referidas as consequências negativas das redes sociais e da dependência do telemóvel. As redes sociais levam ao fracionamento do espaço público, dificultando um debate aberto a posições divergentes: muitas pessoas só acreditam em notícias e opiniões nos “sites” dos quais se sentem ideologicamente próximas. Assim, falta um verdeiro contraditório.

Por outro lado, é deprimente, mas não raro, ver duas pessoas (até podem ser marido e mulher) a almoçarem num restaurante, sem conversarem entre si, pois cada uma está absorvida pelo seu “smartphone”.

Mudanças na informação

Na área da informação são enormes as mudanças instigadas pela necessidade de dar e receber informação a qualquer hora e o mais rapidamente possível. Nós hoje vemos pessoas encarregadas de transmitir informação nas empresas, no Estado – incluindo forças armadas, polícia e tribunais – nas ONGs, etc. Estes porta-vozes não existiam há trinta ou quarenta anos.

Nessa altura, o funcionário de uma grande empresa encarregado de lidar com os jornalistas – se é que existia tal pessoa – podia responder a uma pergunta dizendo que se iria informar e que dentro de poucos dias responderia. Agora, a resposta terá de ser, se não imediata, pelo menos dentro de poucas horas.

Não são apenas os canais noticiosos de televisão que transmitem 24 horas por dia. Praticamente todos os meios de comunicação social – jornais, rádios, televisões – têm “sites” noticiosos na net (como este que o leitor está a consultar), em permanente funcionamento. O que implica uma competição para ser o primeiro a dar a notícia.

Tal competição, se por um lado é saudável, por outro limita o tempo de investigação dos jornalistas. Até porque a crise reduziu perigosamente o número de jornalistas nas redações. A qualidade e a credibilidade do jornalismo ressentem-se, claro.

Vantagens e riscos do “lobbying”

O “lobbying” é a atividade que procura influenciar o poder político antes deste tomar uma determinada decisão. São profissionais pagos que defendem interesses dos seus clientes. Um “lobby” era, na origem, um corredor da Câmara dos Comuns britânica, onde apareciam pessoas importantes, procurando convencer deputados dos seus pontos de vista.

Em países como Portugal, muitas vezes o “lobbying” é feito pelos próprios gestores e empresários junto dos governantes, dada a promiscuidade reinante no nosso país entre política e negócios. E o que é uma “cunha”, tão corrente entre nós?...

Quando a escala do que está em jogo é maior, aí entram em força os profissionais. É o que se passa na capital federal dos EUA, Washington, e em Bruxelas, onde se situa a maior parte das instituições da UE.

Nos EUA o “lobbying” (dirigido sobretudo a membros do Congresso) aumentou muito desde há meio século, o que suscita preocupações quanto ao carácter democrático da vida política americana. É que esta atividade envolve muito dinheiro e só empresas, associações e pessoas ricas podem recorrer aos serviços de lobistas. Há o risco de uma oligarquia ultrapassar a democracia. Daí a necessidade de regular estritamente a atividade, tornando-a o mais transparente possível.

O “lobying” pode até ter aspetos positivos para quem é alvo dele. Claro que deve sempre ser encarado com cuidado, dada a parcialidade da fonte – mas esta pode fornecer aos decisores importantes informações técnicas, específicas dos interesses que representa.

Na UE a iniciativa legislativa deve partir, na maioria dos casos, da Comissão Europeia. É um processo longo, que termina no Conselho e no Parlamento Europeu. Há dezenas de milhares de pessoas em Bruxelas (muitas delas antigos funcionários da Comissão) a seguir aquele processo. O que implica, em princípio, acompanhar o assunto logo desde a sua primeira fase, quando é mais fácil influenciar as decisões.

Portugal também tem os seus lobistas em Bruxelas. Deveriam ser mais – mas é caro, como se calcula.

Este conteúdo é feito no âmbito da parceria Renascença/Euranet Plus – Rede Europeia de Rádios. Veja todos os conteúdos Renascença/Euranet Plus

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