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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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Crise política em Israel

06 jun, 2019 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


A política israelita radicalizou-se à direita. A luta é hoje entre nacionalistas laicos, por um lado, e nacionalistas apoiados por partidos religiosos fundamentalistas, por outro.

Estava previsto que, por esta altura, os EUA apresentassem uma proposta para relançar o processo de paz entre Israel e os palestinianos. Mas não vai acontecer, pelo menos uma proposta viável e não apenas eleitoralista. É que Netanyahu, como é sabido, não conseguiu uma maioria parlamentar para formar governo, obrigando a repetir eleições em setembro, depois de ter havido eleições em abril.

Deve dizer-se que, independentemente da atual crise em Israel, serem muito baixas ou até nulas as expectativas quanto ao previsto plano de paz americano, de que seria principal responsável Jared Kushner, genro de Trump e judeu. Kushner afirmou há dias que os palestinianos não têm capacidade para se autogovernarem. Claro que um político americano que diz isto não pode mediar qualquer processo de paz. Aliás, Trump não acredita nesse processo. Apenas quer ajudar o seu amigo Netanyahu.

A política de Trump para o Médio Oriente consiste numa fortíssima hostilidade ao Irão e total apoio ao ainda primeiro-ministro israelita, Netanyahu (o que será feito, em breve, com o tal projeto de processo de paz), bem como uma estreita ligação à Arábia Saudita, contra o Irão.

Ora tanto Netanyahu como o político israelita que lhe impediu uma maioria parlamentar não querem acordos com os palestinianos. Esse político é Avigdor Lieberman, um ultranacionalista laico, que representa sobretudo a comunidade russófona no país.

Este homem quer afastar do poder os partidos religiosos que têm apoiado os governos do Likud chefiados por Netanyahu, mas não se vislumbra nele qualquer abertura a negociar seriamente com os palestinianos; Lieberman considera os cidadãos árabes de Israel “pessoas desleais”.

A democracia israelita está, assim, a deteriorar-se. Israel é agora legalmente considerado “o país dos judeus”. O que contraria o pluralismo religioso seguido pelos primeiros políticos da história do Estado de Israel. Não admira que, ali, a intolerância e as violações do Estado de direito se multipliquem, limitando os direitos das minorias étnicas e religiosas. Paz com os palestinianos? Uma aspiração cada vez mais longe de se concretizar.

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