08 mai, 2019
No dia 16 de abril, a Renascença noticiou que “o Governo tem estado a ponderar e tem discutido várias vezes a sua própria demissão caso seja forçado a dar, via Parlamento, uma resposta aos professores”. Mas parece que alguns políticos estavam distraídos. A distração agravou-se na quinta feira passada, 2 do corrente mês, quando na comissão parlamentar de Educação, à noite, deputadas do CDS e do PSD acordaram com o PCP e o BE um documento que previa o pagamento total aos professores do tempo em que esse pagamento esteve congelado.
O CDS e o PSD tinham condicionado a aprovação daquele documento a uma série de requisitos para preservar a consolidação das contas públicas; só que, surpreendentemente, apesar dessas condições terem sido rejeitadas pelos partidos de esquerda e portanto excluídas do documento, as deputadas do PSD e do CDS aprovaram o documento em causa. E foi quase tudo registado pelas televisões…
Naturalmente que António Costa não perdeu a oportunidade para executar aquilo que há semanas vinha a ser discutido no núcleo duro do Governo: o primeiro-ministro ameaçou mesmo com a demissão, no quadro de uma encenação que dramatizou a ameaça.
Por isso os líderes do CDS e do PSD tiveram de recuar. Mas, como ontem aqui escreveu Eunice Lourenço, o comportamento daqueles dois partidos foi “uma manifestação de desconhecimento e descoordenação parlamentar porque, no fundo, (os líderes do PSD e do CDS) vieram dizer que, afinal, aquilo que foi negociado e aprovado na comissão parlamentar de Educação não é bem o que queriam e, em última análise, não aprovam um articulado que os seus deputados aprovaram”.
Mas a troca de insultos continua. E A. Costa esforça-se por prolongar o mais possível uma crise que deixou de ter sentido. É que as reservas do PSD e do CDS serão chumbadas pelo PS, BE e PCP – para desgosto de Mário Nogueira.
A crise não terá sido propriamente artificial – mas o seu prolongamento é mais do que artificial, quando já se sabe que a lei que levaria à ameaçada demissão do Governo não passará. Este prolongamento reforça a evidência de que o “golpe” do primeiro-ministro teve sobretudo a ver com tirar o PS de crescentes dificuldades. Para já, desviou a atenção das eleições europeias, cuja campanha não está a correr bem para os socialistas.
Veremos se a proposta de lei será votada no parlamento na sexta-feira próxima, dia 10, ou se – como gostaria o PS – apenas a 15 deste mês, último dia em que o plenário funciona antes das eleições europeias.