Tempo
|

A+ / A-

Conteúdo Patrocinado

A Madeira de... Ana Galvão

Ana Galvão Marina Duarte (adaptação digital)


Na Madeira tudo é verde e cheira bem, há montanhas imponentes de um lado, o mar do outro, diria que quem desenhou a Ilha o fez com extremo talento.

Há muito muito tempo que estava com vontade de ir à Madeira. Não só pelas conhecidas belezas de que tanto se fala, mas porque, há uns anos, fui lá para trabalhar uma tarde apenas, ou seja, estive umas parcas horas a degustar aquele cheirinho a flores e vista de mar, quando me mandaram de volta para Lisboa. Foi como se alguém me tivesse posto à frente a mais deliciosa sobremesa mas a tivesse retirado mesmo antes de eu sequer enfiar lá um garfo. Desde então que tinha a obsessão de saborear a Madeira com tempo, e finalmente aconteceu, este fim de semana. E não podia ter sido melhor.

Para começar a chegada ao aeroporto é logo brindada com uma espampanante vista de mar, um intenso cheiro a flores e uma brisa calma capaz de apagar, de imediato, qualquer reminiscência de agitação citadina. Aliás, tive pena de não poder trazer numa caixa, para Lisboa, essa sensação de total tranquilidade. Tenho a certeza que seria um êxito em vendas.

Assim que começa a minha viagem para o hotel sinto, imediatamente, que me vou apaixonar por aquela Ilha. Tudo é verde e cheira bem, há montanhas imponentes de um lado, o mar do outro, diria que quem desenhou a Ilha o fez com extremo talento. Os túneis, como se sabe, são uma constante por lá, há cerca de 180, o que aproxima os diferentes lados da Ilha. Portanto, passei por alguns até o meu destino, a zona norte da ilha, onde fica o meu hotel, a Quinta do Arco, um conjunto de casinhas, com belas vistas para a costa, e arrumadas no meio de jardins, corredores de água e flores, e mais flores, e onde me recebe uma senhora tão simpática que me apetece convida-la para jantar. Aliás, a simpatia é uma constante na ilha, posso dizer que me atrasei várias vezes a encontros programados por ficar a conversar com as pessoas que ia encontrando. Foi esta uma das características que mais gostei da minha viagem, a hospitalidade dos madeirenses.

Juan Yanez, um encantador guia da equipa da "Hit The Road Madeira", apareceu à porta do hotel no Sábado de manhã para mostrar as preciosidades da sua terra. Pelo caminho ia cumprimentando pessoas, deu para perceber que grande parte das quase 250 mil pessoas que vivem na ilha, se conhecem. A primeira paragem foi o mercado de Santana, onde se vendem exóticas frutas que nunca antes tinha visto: o maracujá banana (um fruto alongado com sabor ácido), o maracujá ananás (este sim, docíssimo), o fruto delicioso (uma espécie de abacate, que só se come quando a casca abre naturalmente, e que nós conhecemos por "costela de adão") ou então as gigantescas anonas.

Santana não só tem este pitoresco mercadinho como também as conhecidas casas de Santana, casinhas triangulares, com telhado de colmo, e janelinhas de madeira pintadas de azul. Estas habitações são antiquíssimas e eram feitas de materiais que protegiam as famílias e os seus animais em qualquer estação do ano. Numa delas vive o Manuel, um venezuelano que trocou a sua trágica vida em Caracas por esta pacata vila madeirense. A casa do Manuel tem 245 anos e pertence à sua família há 6 gerações. É uma das mais chamativas, pelos cuidados jardins, e pela conhecida simpatia dele, que oferece bolachas e licor de café feito pelo próprio.

Aliás, falemos em licores, ou neste caso, questionemos quantos licores somos capazes de provar até começar a ver as paisagens a dobrar. É que na Madeira a já referida hospitalidade convida a que se prove, em todas as esquinas, as variadas e afamadas bebidas, ou porque faz passar a gripe, ou porque sabe a mel, ou porque tem um delicioso travo a maracujá. A célebre poncha é boa mas é, efetivamente, para resistentes.

Seguimos então viagem, para miradouros incríveis atrás de miradouros magníficos. Primeiro o do Guindaste, no Faial, onde se vê a encosta conhecida como Penha da Águia (porque parece mesmo o animal, de asas abertas), a seguir o dos Balcões, no Ribeiro Frio, onde se avistam vales e montanhas da costa norte, e onde os conhecidos tentilhões, pequenos passarinhos, são tão sociáveis, que nos veem à mão pedinchar migalhas. Depois o segundo pico mais alto da Ilha, o Pico do Areeiro, com uma altitude de 1818 metros acima do nível do mar. É tão alto que por vezes ficamos com a sensação que estamos a caminhar nas nuvens ou estamos a rebolar em grandes e fofos rolos de algodão doce. De lá levo as impactantes vistas e esse cheiro constante a perfume.

E tudo isto aconteceu em apenas uma manhã, nunca o meu tempo foi tão bem gasto.


De tarde o programa meteu bicicletas de BTT. A Freeride Madeira pegou numa imponente bicicleta, e lá fui eu, montanha acima, montanha abaixo, conhecer as famosas levadas, caminhos que escoam e levam água do topo da montanha às populações. Aliás, o desporto de natureza tem tido uma procura massiva nesta ilha, o que tendo em conta a sua geografia e beleza, entende-se perfeitamente.

Depois disto tudo o meu corpo só foi capaz de se arrastar até ao restaurante e de adormecer de imediato, naquele sono profundo que só acontece no silêncio de um sítio como este. Sonhei com florestas mágicas, tenho a certeza.


O domingo levou-me de novo às levadas, desta vez a pé. Há para todos os gostos: caminhadas íngremes para profissionais, tranquilos e curtos percursos, ou desafios mais exigentes e longos que podem durar um dia inteiro. A "minha" foi a levada do rei, 10km (ir e vir) nível fácil, que percorre um trilho de árvores e plantas, algumas só existentes na ilha. E depois as flores (sempre as flores), e os pássaros, que nos acompanham em quase toda a marcha, com os seus "pius".

Uma das espécies de ave que se consegue ver nas montanhas é um pássaro que apenas se encontra na Madeira, é a ave mais pequenina da Europa (pesa 5 gramas) faz um som fininho que lhe valeu o nome de "Bis-Bis". Aliás, os madeirenses são muito bons na hora de escolher os nomes das coisas, para além do Bis-Bis o meu favorito é o de um cogumelo que cresce nas árvores, fazendo uma saliência, chamado pelos madeirenses de "Assento das fadas".

A parte mais gira, já em cenário de Floresta Laurissilva, é a que nos obrigada a passar por uma cascatazinha (recomenda-se casaco impermeável), e a chegada à Madre da Levada, um estonteante recanto digno de fábula encantada.

Lá fui contente, após este banquete maravilhoso de natureza, de aromas floridos e da calma silvestre (que bem que me fez) até ao Funchal, capital da Madeira, no outro extremo da ilha, a zona Sul.

O Funchal é um paraíso para quem procura um destino com todas as comodidades turísticas (restaurantes, lojas, bares, movimento nas ruas) mas com o tamanho certo para ser, ao mesmo tempo, acolhedor. O avião partia dentro de pouco tempo, ou seja, não tive tempo de usufruir do Funchal, mas levo a imagem das ruas velhas junto ao mar, das ostentosas gelatarias de sabores exóticos, e de algo que me fascinou: dezenas de casinhas cujas portas estão decoradas por artistas, produzindo uma galeria de arte grátis nas várias ruas da cidade.

Adeus Madeira, adorei conhecer-te, e levo comigo o teu verde e o cheiro de mar e de flores.


Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.