11 abr, 2019
Ontem, Portugal emitiu dívida pública de longo prazo ao custo mais baixo de sempre. É mais um sinal da credibilidade de que o Estado português hoje goza nos mercados.
É um facto que se deve a algo que parecia impossível no início do mandato de um governo apoiado no parlamento por partidos de extrema-esquerda: Centeno, com a concordância do primeiro-ministro, cumpriu rigorosamente as metas orçamentais de Bruxelas, mesmo antes de ser presidente do Eurogrupo. A via escolhida não terá sido a melhor (cativações, problemas na administração pública, sobretudo no Serviço Nacional de Saúde, etc.). Mas essa é outra questão.
António Costa foi imprudente quando, desde que se tornou primeiro-ministro, insistiu inúmeras vezes em que tínhamos virado a página da austeridade. Suscitou assim expetativas irrealistas - daí as muitas greves desde há cerca de um ano.
Num longo artigo sobre Portugal, ontem publicado pelo “Financial Times” e onde se sublinham os sucessos deste governo na área económica e financeira e também alguns problemas (como a fragilidade da banca), surge uma interessante declaração de M. Centeno. Diz o jornal britânico que o próprio Centeno admite que o grau em que o atual governo ultrapassou a austeridade “não foi dramático”. E ainda: “Uma mudança teria de ser concretizada, mas não uma grande mudança”.
Afirmou também Centeno que “pequenas alterações nas políticas foram suficientes para restaurar a confiança e estimular o crescimento económico. O segredo foi comprometermo-nos com um caminho e mantê-lo”.
M. Centeno é doutorado por Harvard. Tem um prestígio científico que não poderia desperdiçar. Daí o seu realismo.