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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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​Uma entrevista sensata

26 mar, 2019 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


António Costa tem uma visão pragmática da UE e defende uma Europa de geometria variável. O primeiro-ministro alerta para que os problemas do euro não estão resolvidos.

António Costa, numa longa entrevista conduzida por Teresa de Sousa no “Público” de domingo passado, alerta para a ilusão de julgar que os problemas do euro estão resolvidos. Aliás, toda a entrevista é sobre questões europeias, o que se justifica pela importância que essas questões têm para Portugal. E também porque contraria a tradição de abordar apenas marginalmente as políticas europeias nas eleições para o Parlamento Europeu.

A visão do primeiro-ministro é pragmática e defende uma Europa de geometria variável. Mas não desvaloriza a crise da democracia liberal que afeta muitos Estados membros da UE. A. Costa aponta o enorme aumento das desigualdades de riqueza e rendimentos como uma das causas, porventura a mais importante, para esse desencanto com a democracia. Daí que considere essencial a concretização do pilar social da integração europeia, para reconciliar as classes médias com a Europa e a democracia.

A. Costa dá alguns exemplos de avanços positivos na UE. Poderia ter acrescentado mais um. Refiro-me à primeira volta das eleições presidenciais na Eslováquia, país do chamado grupo de Visegrado, conhecido pela sua hostilidade à imigração. Pois foi uma advogada liberal de 45 anos, Zuzana Caputova, quem ficou à frente dessa primeira volta, com 41% dos votos e boas perspetivas de ganhar na segunda volta, no fim deste mês.

Por outro lado, A. Costa lembrou que, sem um orçamento significativo na zona euro, as desigualdades entre países mais desenvolvidos e os outros acentuam-se. Delors chamou oportunamente a atenção para este problema, mas não foi ouvido. Ora já existia há muito evidência empírica dessa tendência - com a unificação da Itália no séc. XIX, que enriqueceu o Norte e empobreceu o Sul do país.

O primeiro-ministro reconhece que a imigração é o problema mais difícil e complexo que a UE enfrenta, agora e nas próximas décadas. E sobre o número limitado de refugiados que vêm para Portugal, Costa foi claro: “as pessoas não querem vir para a Europa em abstrato, querem vir para a Alemanha em concreto”.

Este conteúdo é feito no âmbito da parceria Renascença/Euranet Plus – Rede Europeia de Rádios. Veja todos os conteúdos Renascença/Euranet Plus

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