14 mar, 2019
“Não podemos aceitar quando alguns grandes Estados membros (da UE) dizem que é essencial criar campeões à escala global, concentrando empresas europeias e sacrificando a concorrência no conjunto do mercado interno”. Esta frase poderia ter sido dita por um economista neoliberal; mas foi o primeiro-ministro António Costa quem a pronunciou na semana passada. Ainda bem.
Os grandes países da UE são, neste caso, a dirigista França de Macron e a Alemanha, cujo Ministro da Economia, o democrata cristão Peter Altmaier, defendeu que são necessários campeões empresariais na Europa “com capacidade para competir a nível global”. Esta posição tem muito a ver com a recente decisão da comissária europeia para a concorrência, M. Vestager, que chumbou a fusão da alemã Siemens com a francesa Alstom, na parte ferroviária. Paris e Berlim não gostaram e pretendem alterar as regras da concorrência na UE.
António Costa também foi assertivo ao criticar a tendência para o protecionismo no plano da inovação tecnológica – reagindo a práticas da China, acrescento eu. É verdade que a China não cumpre regras básicas da Organização Mundial do Comércio, protegendo de vários modos as empresas chinesas, usando métodos inaceitáveis para absorver tecnologia estrangeira, etc.
A UE pode e deve defender-se contra essas práticas. Uma das formas será vigiar mais de perto o investimento direto chinês. Mas, como A. Costa também alerta, não se deve excluir o investimento empresarial chinês só por ser… chinês. A Comissão Europeia propôs dez medidas para as relações com a China, que o Conselho Europeu daqui a duas semanas deverá apreciar.
Creio que o primeiro-ministro acertou na “mouche” ao prevenir contra um protecionismo europeu disfarçado, aproveitando vários pretextos. Terá de continuar a falar claro na próxima cimeira.
Este conteúdo é feito no âmbito da parceria Renascença/Euranet Plus – Rede Europeia de Rádios. Veja todos os conteúdos Renascença/Euranet Plus