18 fev, 2019
A onda de greves não dá sinais de abrandar. Pelo contrário, as greves tendem a multiplicar-se, sobretudo no sector público.
A explicação para este fenómeno, inédito na história recente da democracia portuguesa, tem sido aqui desde há muito repetida e é hoje largamente consensual. Logo após tomar posse de primeiro-ministro, A. Costa proclamou solenemente que se tinha virado a página da austeridade. As expectativas da maioria das pessoas subiram muito.
Só que hoje os portugueses se sentem frustrados: afinal, repostos os cortes em salários da função pública e nas pensões (o que provavelmente qualquer outro governo faria, ainda que a ritmo mais lento), começaram a sentir-se os efeitos da travagem nas despesas do Estado, sobretudo no investimento público.
A essa “austeridade disfarçada” soma-se, agora, um crescimento económico que abranda. “A economia portuguesa é um comboio em risco de descarrilar”, diz a agência Reuters, citada pelo “Negócios”. O que, naturalmente, limita a possibilidade de o Governo abrir os cordões à bolsa sem pôr em causa as metas acordadas com Bruxelas. Em ano de eleições, não é uma situação cómoda para A. Costa.
Mas há um outro factor para esta ausência de paz social que é menos referido: a reconhecida habilidade política do primeiro-ministro parece só funcionar quando o vento está de feição. António Costa perde qualidades quando afronta ventos contrários.
Recordem-se as primeiras reações governamentais à tragédia dos incêndios florestais de 2017 ou ao aluimento de uma estrada, em Borba, no passado mês de Novembro. Durante tempo demais a prioridade governamental foi sacudir a água do capote.
Também não mostra o Governo capacidade para gerir com competência conflitos laborais sérios, como existem nos enfermeiros do Serviço Nacional de Saúde e nos professores da escola pública, entre muitos outros. Decididamente, este não é um governo talhado para enfrentar tempos adversos.