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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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Desafio à justiça?

05 fev, 2019 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Joe Berardo recusa cumprir ordens judiciais para demolir uma obra no prédio onde é condómino. Diz que a obra está legalizada, mas um vizinho nega.

Na lista dos grandes devedores da Caixa Geral de Depósitos, figura Joe Berardo. Já se sabia que ele pedira dinheiro ao banco do Estado para comprar ações do BCP. O assalto político ao BCP, em 2007, em parte financiado pela CGD, foi o maior escândalo da banca em Portugal depois de 1974, com a possível exceção do colapso do BES-GES.

Mas Joe Berardo tem sido notícia por outros motivos, alguns aparentemente caricatos. No jornal “Público” de ontem recorda-se que o caso do WC no apartamento de J. Berardo em Lisboa entrou nos tribunais há nove anos. Trata-se de um WC de luxo (o que não é ilegal) mas com vista para o Palácio das Necessidades, onde está o Ministério dos Negócios Estrangeiros. Berardo avançou para essa obras sem autorização da Câmara Municipal de Lisboa nem parecer do Instituto do Património Arquitetónico (necessário dada a proximidade do Palácio das Necessidades). Também não ouviu os outros condóminos, uma exigência legal.

Um desses condóminos levou o assunto a tribunal. Como é habitual, tardou a primeira sentença, que condenou Berardo a demolir. Outras sentenças do mesmo teor se seguiram, culminando no Tribunal Constitucional. Este declarou não estar em jogo qualquer violação da Constituição: “O que está aqui em causa é, pura e simplesmente, o frontal desrespeito pelos procedimentos legais”. Respondendo a novo recurso de J. Berardo, o Tribunal Constitucional em junho passado sugeriu que Berardo cumprisse o regime legal em vigor.

Informa o “Público” que a advogada de J. Berardo defende que a obra está legalizada. O que é desmentido pela advogada do condómino que há nove anos levantou a questão na justiça. Afirma esta advogada que uma reunião de condóminos (da qual o seu constituinte não teria sido informado) não pode revogar uma decisão de um tribunal. Por isso, o referido condómino irá desencadear nova ação judicial.

A justiça deve esclarecer publicamente este assunto. É que, a não o fazer, permitirá a impressão de que existem entre nós algumas pessoas que olimpicamente ignoram essa mesma justiça. Estariam, então, acima da lei, o que não é aceitável.

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