23 jan, 2019
Até meados do século passado Portugal teve uma economia predominantemente agrícola, em grande parte de subsistência – isto é, cuja produção era sobretudo consumida pelos produtores e não vendida no mercado. Uma economia naturalmente pobre e isolada do exterior. Por isso a grande recessão mundial dos anos 30 não foi muito sentida entre nós.
Era uma economia ideal para a ditadura de Salazar. Mas, terminada a II guerra mundial, o mundo desenvolvido renunciou ao protecionismo e as economias caminharam no sentido da internacionalização. Salazar começou por rejeitar o Plano Marshall (que depois teve que aceitar) e permitiu, com alguma relutância, que Portugal entrasse no movimento de integração europeia, na zona de comércio livre EFTA.
Essa entrada ficou a dever-se à impossibilidade de a economia portuguesa se industrializar com base num mercado interno tão pequeno. Um facto para o qual os industriais chamaram publicamente a atenção nos anos 50. Mas persistiram traços protecionistas, como o célebre condicionamento industrial, que só acabou depois do 25 de Abril de 1974. A adesão à CEE, em 1986, consagrou o fim do isolamento económico, além de ter consolidado a jovem democracia nacional.
A ideia, que entretanto se formou, de que Portugal tinha uma pequena economia aberta ao exterior, não era, porém, totalmente verdadeira. Em 2005 as exportações equivaliam apenas a 27% do PIB. Hoje valem mais de 43%; o objetivo governamental é que as exportações cheguem a 50% do PIB.
A recente capacidade exportadora portuguesa foi um sinal muito positivo. E algo inesperado: depois da entrada no euro, há vinte anos, a impossibilidade de desvalorizar a moeda levou muitas empresas em Portugal a trabalharem sobretudo para mercados onde não sofriam a concorrência externa – eram os chamados bens não transacionáveis.
Por outro lado, por cada dez euros de exportações portuguesas, em média estão incorporados quatro euros de conteúdo importado. O que é normal, num mundo onde os circuitos de produção se repartem por diversos países, multiplicando as interligações.
Esta realidade (que torna ainda mais absurdo o protecionismo de Trump) também tem um custo: quando a economia internacional arrefece, como há indícios de estar agora a acontecer, a economia nacional ressente-se. E o Brexit ameaça reduzir a importância do turismo britânico em Portugal, o que também não ajuda.
São contratempos a que não podemos fugir. Trata-se, aliás, da contrapartida da ajuda que o crescimento económico internacional deu ao crescimento português nos últimos anos. Uma coisa é certa: qualquer regresso ao isolamento económico não seria remédio aceitável e só iria prejudicar o futuro. Valha-nos que, se temos de sofrer o protecionismo dos grandes, como o dos EUA, não possuímos em Portugal dimensão para impor protecionismos.