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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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​A China superpotência

07 jan, 2019 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


O sucesso espacial chinês da semana passada é importante para o país manter credibilidade no seu esforço para ser uma superpotência.

Nesta semana haverá, em Pequim, uma importante reunião entre dirigentes chineses e americanos sobre questões de comércio internacional. Os mais otimistas esperam que desta negociação saia o fim da guerra comercial entre os EUA e a China. Por outro lado, acentuam-se os indícios de travagem no crescimento da economia chinesa, pois o consumo interno parece não compensar as dificuldades que as exportações da China estão a encontrar nos mercados internacionais.

Estes dois factos provavelmente não terão sido alheios ao feito espacial da China na quinta-feira passada. Após 21 dias de viagem no espaço, uma sonda chinesa aterrou no lado encoberto da lua, proeza que nem os EUA, nem a Rússia, nem qualquer outro país haviam até agora conseguido. Pela primeira vez a China logrou um sucesso espacial primeiro do que os seus rivais americano e russo, correndo importantes riscos.

O êxito espacial chinês melhora o estado de espírito da população do país, numa altura de abrandamento económico e de repressão política mais intensa. E confirma a credibilidade no esforço da China para consolidar um estatuto de superpotência, aproximando-se da paridade com os EUA.

Estatuto que também decorre dos gastos militares chineses. Em 2017 a China gastou com as forças armadas menos de metade do que gastaram os EUA, mas 3,4 vezes mais do que a Rússia de Putin despendeu na área militar. Há dois dias, o Presidente Xi Jinping ordenou às forças armadas chinesas que se preparem para o combate e a guerra, por considerar que o país enfrenta riscos e desafios sem precedentes.

Recorde-se que em outubro de 1957 a Rússia ultrapassou os EUA na corrida espacial, ao lançar o Sputnik, primeiro satélite artificial da Terra. O choque no Ocidente e sobretudo nos EUA foi então enorme, levando nos anos seguintes os serviços secretos americanos a estimativas exageradamente irrealistas sobre o poderio militar e científico da União Soviética. Os EUA acabariam em 1969 por chegar primeiro à lua num voo tripulado, mas entretanto John Kennedy foi eleito presidente muito com base numa ideia de inferioridade americana face ao comunismo soviético, ideia que se revelaria falsa.

O comunismo soviético colapsou apesar dos “brilharetes” espaciais. Falhou o desenvolvimento económico, que também poderá vir a ameaçar a China, depois de duas décadas de crescimento fulgurante.

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