15 dez, 2018
Durante milénios a economia da generalidade dos países e povos cresceu muito pouco. A regra era a grande maioria da população ser pobríssima, alimentando-se da pecuária e do que conseguia cultivar, enquanto uma pequena elite social e política vivia no luxo, sem trabalhar.
A situação começou a mudar com a revolução industrial, que ocorreu em Inglaterra a partir dos finais do séc. XVIII. Decerto que esse início de industrialização trouxe consigo uma cruel exploração do trabalho dos que saíam dos campos para trabalharem nas fábricas – homens, mulheres e crianças. Mas, a longo prazo, melhorou a vida da maior parte da população.
Alguns países europeus, como a Bélgica, fizeram a sua revolução industrial quase a seguir aos britânicos. A França atrasou-se um pouco, mas também se industrializou. Mais tarde – finais do séc. XIX – foi a vez da Alemanha, recentemente unificada, a ponto de se tornar uma rival económica e militar da Grã-Bretanha.
O carvão britânico
Mas porque foi na Grã-Bretanha que, pela primeira vez, surgiu a revolução industrial? Esta pergunta suscitou autênticas bibliotecas na tentativa de lhe responder. A explicação fácil era que naquele país existia muito carvão, que fornecia energia às locomotivas dos comboios e às máquinas das fábricas. E é relativamente consensual que a existência de um Estado de direito na Grã-Bretanha, a par de uma preferência popular por reformas em vez de revoluções, foi também um motor da industrialização britânica.
Em contrapartida, Portugal não possuía carvão em quantidade significativa e passou boa parte do séc. XIX em guerras civis e em instabilidade política, depois das invasões francesas e da emigração da família real para o Brasil, acompanhada por cerca de 10 mil pessoas. Por isso, diz-se, a industrialização só muito mais tarde chegaria ao nosso país.
Mas no séc. XX o Japão industrializou-se e modernizou-se espetacularmente, sem possuir quaisquer fontes significativas de energia. Na passada década de 80 os japoneses assustaram os americanos com o dinamismo das suas empresas, em particular no setor automóvel. Nessa altura, não faltava em Portugal quem receasse que o Japão em breve iria tomar conta da economia mundial.
Só que no final do século a economia japonesa entrou em deflação, uma descida continuada e generalizada de preços – fatal para o crescimento económico, pois toda a gente fica à espera de preços mais baixos, adiando compras.
Já passaram mais de vinte anos e a crise japonesa ainda não foi totalmente ultrapassada. O Governo japonês e o seu banco central injetaram enormes quantias de dinheiro na economia, mas os efeitos ficaram aquém do esperado. Porquê? Ninguém sabe ao certo, embora haja muitas e contraditórias teorias.
O “milagre” chinês
Num outro país asiático, a China, deu-se o mais recente “milagre” económico. Depois da catastrófica revolução cultural, desencadeada por Mao, Deng Xiao Ping abriu a economia chinesa às forças do mercado. Embora a abertura fosse limitada, desencadeou o mais fulgurante crescimento económico que a história regista, tirando da miséria centenas de milhões de chineses. E o número de ricos na China aumentou imenso.
O que surpreende no caso chinês, para além do rápido crescimento económico (o qual entretanto abrandou, mas para níveis ainda de fazer inveja a americanos e europeus), é que os chineses ricos não reclamam direitos civis e políticos, ao contrário do que acontecera em França no fim do séc. XVIII.
Com o atual líder vitalício da China, Xi Jinping, a ditadura do partido comunista tornou-se até mais severa. No plano internacional, Xi defende a liberdade de comércio contra o protecionismo de Trump, mas internamente o PC chinês interfere cada vez mais na atividade económica. De qualquer modo, o capitalismo de Estado da China é apresentado mundialmente como alternativa ao capitalismo liberal.
Também a rápida modernização da União Soviética, que chegou a rivalizar com os EUA na corrida pelo espaço, atraiu vários países do então chamado “terceiro mundo”. Parece que o modelo soviético, embora ditatorial, permitia uma expedita industrialização. O colapso do comunismo soviético, porém, revelou a debilidade da sua economia. Os sucessos soviéticos na corrida espacial e no plano militar resultavam de uma acentuada concentração de recursos nessas áreas, em detrimento das outras.
A economia comportamental
Se a história económica da revolução industrial aos tempos de hoje não fornece uma explicação satisfatória sobre o segredo do crescimento económico, também as limitações da economia como ciência se tornaram evidentes.
Simplificando, a maior parte da ciência económica concentrou-se em economias de mercado. E sofisticados modelos económicos partiam do pressuposto, explícito ou apenas implícito, de que a generalidade das pessoas age racionalmente visando maximizar os seus interesses – mais dinheiro, nomeadamente.
Só que a chamada psicologia do comportamento aplicada à economia (“behavioural economics”) mostra que frequentemente as decisões das pessoas não seguem a racionalidade. E também se prova que o interesse egoísta nem sempre é o critério da decisão. Ou seja, o pressuposto daqueles modelos matemáticos não é verdadeiro, pelo menos em grande número de casos. Daí o falhanço frequente das previsões económicas.
Psicólogos que cultivam perspetivas comportamentais já ganharam o Prémio Nobel da Economia. E a procissão ainda vai no adro.
É tudo bem mais complexo do que se pensava. O que exige humildade por parte dos economistas. A raiz do desenvolvimento económico continua a ser um mistério.