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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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Falhas partidárias

10 dez, 2018 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Os partidos necessitam de se modernizar, deixando de ser meras agências de empregos.

Sem partidos políticos não há democracia representativa. Fora de um âmbito muito limitado, a fantasia da democracia direta leva à ditadura. Mas os partidos necessitam de mudar, deixando de ser meras agências de empregos. Além de que os partidos moderados tradicionais estão a ser abalados pelos extremismos de esquerda e de direita.

Não é apenas o escândalo dos deputados que votam sem estarem presentes no parlamento que alarga o fosso entre os portugueses e os políticos. Dois casos recentes revelam que a mentalidade partidária do PS e do PSD deixa a desejar.

O primeiro caso diz respeito a afirmações de Carlos Peixoto, do PSD, e de Jorge Lacão, do PS, sobre o novo Estatuto dos magistrados do Ministério Público. Ambos os deputados defendem que o Conselho Superior do Ministério Público deverá ter mais políticos e menos magistrados.

É uma ingerência inaceitável da política na independência da justiça. Algo que evoca o que lamentavelmente se passa na Hungria e na Polónia e que, com razão, tem sido amplamente criticado também entre nós. Será que os partidos reagem ao facto de o Ministério Público ter nos últimos anos acusado e até levado à condenação de políticos portugueses, coisa que antes não era habitual?

O empenho do líder do PSD, Rui Rio, em reformar a justiça também suscita alguns receios. As intenções de Rio poderão ser as melhores, mas o facto de ele ter como principal colaboradora nesta área a ex-bastonária da Ordem dos Advogados, Elina Fraga, continuadora da linha populista de Marinho e Pinto, não é propriamente tranquilizador.

O outro caso foi a saída do grupo parlamentar do PS de Paulo Trigo Pereira. Este professor de Finanças Públicas, que não é militante socialista, integrou o grupo de economistas que preparou para o PS, em Abril de 2015, um cenário macroeconómico, que foi importante na elaboração dos orçamentos de Estado do governo de A. Costa que se seguiram.

Só que o PS não suportou a independência deste deputado, que votou 147 vezes de maneira diferente do voto da bancada socialista. Por isso não o deixaram falar na Assembleia da República sobre temas como o Orçamento de Estado, as Finanças Locais e o Programa de Estabilidade do euro. Naturalmente que o professor de Finanças bateu com a porta do grupo parlamentar do PS. Este partido desperdiçou, assim, os contributos, ainda que porventura polémicos, que Paulo Trigo Pereira poderia dar ao debate político na área financeira.

Parece que o PS tem alergia às ideias e à sua discussão aberta, preferindo fechar-se ao exterior. É a “partidarite” na sua face mais negativa.

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