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João Ferreira do Amaral
Opinião de João Ferreira do Amaral
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A saga do Brexit

19 out, 2018 • Opinião de João Ferreira do Amaral


Vamos acreditar que o que parece, é.

Com os altos e baixos e o dramatismo (real ou fictício) que são próprios de negociações complexas entre Estados, o processo do Brexit vai seguindo o seu caminho.

Aparentemente, existe agora, depois da cimeira do passado dia 17, uma maior abertura das partes para evitar uma saída sem acordo. Essa maior abertura pode passar pela extensão do período de transição pós-Brexit.

Ao que parece, um dos casos mais bicudos para resolver é o problema da Irlanda do Norte. Convém, no entanto, dizer que, quem está fora do segredo das negociações, como é o nosso caso, deverá sempre desconfiar se o que parece é, ou seja, se verdadeiramente será este o ponto mais importantes ou se não se trata de, ao anunciá-lo como tal, se esconder pontos menos mediáticos mas mais cruciais para o desenrolar das negociações. Adiante. Na ausência de informação em contrário, vamos admitir que o que parece, é.

Quanto à fatura do Brexit, que foi muito badalada no início do processo, sendo uma questão financeira, não era só por si algo que impediria um acordo. A vantagem de uma negociação estritamente financeira é que permite bastante flexibilidade em termos de montantes a pagar, contrapartidas, prazos, etc. Só quando, uma das partes domina completamente a outra, como foi o caso do tratado de Versailles, é que as negociações financeiras se transformam rapidamente em saque financeiro. Tal não é, obviamente o caso do Brexit.

Por contraste, é mais difícil o caso da Irlanda do Norte. Tem toda a razão o governo britânico em não admitir uma separação de regimes, nomeadamente aduaneiros, entre a Irlanda do Norte e o resto do Reino Unido. E por isso, essa hipótese está à partida excluída, como bem sabem os restantes 27. Mas entre essa hipótese e a existência de uma fronteira fixa “dura” clássica entre as duas Irlandas, haverá certamente possibilidades intermédias que será possível explorar.

Por isso, continuo a admitir que será possível obter um bom acordo para ambas as partes.

Comentários
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  • Sasuke Costa
    20 out, 2018 00:49
    A classe política criou um problema que não tem solução (com o dinheiro que se vai deixar de pagar à EU vamos criar melhores condições de vida mas veio a revelar-se quem esse dinheiro é uma migalha tendo em conta o que se vai perder) e vão continuar fingindo que tem. O autor do texto diz, e muito bem, que talvez não seja a fronteira das Irlandas a pedra no sapato, opinião que partilho, pois para regimes de exceção já eles o tinham e não souberam reconhecer, (quem dera a todas as economias frágeis poderem usufruir oportunamente da desvalorização e valorização da moeda nativa, mas em jeito de remediação das desconsiderações passadas, na fundação da CEE, foram levados a aceitar essa excecional exceção). As gerações foram-se substituindo e deixaram de estar os “idealista” deste regime especialíssimo e agora, que de forma ingrata vêm falar no assunto e o colocar em aberto, os políticos europeus já nem essas regalias passadas aceitam, querendo ficar ficam com os dois pés como os outros. Como vai explicar a classe política ao povo o assunto? Agora já nem para traz podem voltar, só vejo como solução encontrar um bode expiatório que consiga levar consigo tamanha embrulhada e o povo a ser chamado a decida o rumo do país, é ele uma parte interessada ou a democracia não chega a tanto?