Tempo
|
João Ferreira do Amaral
Opinião de João Ferreira do Amaral
A+ / A-

Jogo perigoso

27 jul, 2018 • Opinião de João Ferreira do Amaral


Não estou inteiramente seguro de que a forma como estão a decorrer as negociações seja tão insatisfatória como as autoridades anunciam.

A acreditar nas diversas autoridades envolvidas, as negociações sobre o Brexit não estão a correr bem. E já se fala de uma saída sem acordo, o que, evidentemente, iria causar um forte abanão em todas as economias europeias.

Claro que, mesmo que as negociações estivessem a decorrer satisfatoriamente, as diversas partes em presença diriam sempre que corriam mal. De facto, se alguém que está a negociar coisas tão fundamentais e complexas como esta vier dizer que as negociações estão a correr bem, a parte contrária evidentemente concluirá que ainda há possibilidade de cedências da outra e exercerá mais pressão.
Por isso, não estou inteiramente seguro de que a forma como estão a decorrer as negociações seja tão insatisfatória como as autoridades anunciam.
Mas a verdade é que pode estar mesmo a suceder isso. Principalmente se os 27 encararem o Brexit como uma maldade que precisa ter o seu castigo ou como uma oportunidade de sinalizar que futuras saídas serão tratadas da mesma forma, ou seja como algo que deve ser punido.
Não estou a exagerar. Nas reacções iniciais depois do Brexit, muitos europeístas - alguns até com responsabilidades políticas - não se coibiram de gritar criancices como estas.

É um jogo muito perigoso que os 27 poderão estar a jogar. Por isso, esperemos que as negociações continuam e avancem. E, principalmente, que Portugal não esqueça que é fundamental para o nosso futuro manter relações especialmente estreitas com o Reino Unido e que aqui, como em tudo, o pior que nos pode suceder é, por subserviência, pormos os interesses dos grandes estados europeus à frente dos nossos.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • MASQUEGRACINHA
    27 jul, 2018 TERRADOMEIO 21:02
    Boa análise dos meandros entre o ser e o parecer da política intestina da UE. Como de toda a política, afinal. Mas, e sem ironias, o Reino Unido alguma vez esteve, realmente, na UE? Do que me lembro, era uma espécie de filho pródigo apaparicado e biqueiro, sempre a escolher os bocados mais tenros do vitelo gordo e sempre na choradeira de que era rijo e era pouco. Livre da pertença ao euro, ia lambendo os dedos e dando uns murros na mesa, fazendo tilintar as libras na algibeira e rosnando ameaças de sair pela porta fora. Talvez o articulista tenha razão, e a família se tenha por fim fartado de assar vitelos para o ingrato, aproveitando, de uma penada, para mostrar exemplo a outros. Mas não um exemplo punitivo, pelo menos não principalmente: de facto, o RU e suas excepcionalidades e exigências já se tornavam difíceis de explicar ao resto da confraria, sobretudo aos que só apanhavam os nervos e os ossos do banquete comum, e iam olhando pasmados para a City londrina a engordar à custa do mesmo euro que Londres rejeitava. Tornaram-se um incómodo, pelo que se aproveita o tiro que deram no pé, e repartem-se os despojos, por Paris e Frankfurt e Amesterdão, pois claro. As "criancices" também fazem parte dos tais meandros. Por outro lado, como poderia Portugal, dependente como está do euro, beneficiar com o afrontamento de quem já provou ser cruel, egoísta e mesquinho, em nome de uma relação particularmente estreita com o RU? Só se for, agora sim, para nos pormos a jeito de exemplo...
  • Fernando Machado
    27 jul, 2018 Porto 15:23
    Meu caro Doutor: o seu artigo está muito bem feito. Quanto a Portugal, deverá ter em conta que somos aliados da Inglaterra há séculos e, como tal, nada de fazer ondas e aguardar serenamente que este "pesadelo" para os 27, pase.