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Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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Opinião de Francisco Sarsfield Cabral

Será possível evitar a guerra comercial?

25 jul, 2018 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Jean-Claude Juncker e Cecilia Malmstrom estão na capital americana, não para negociar, mas para apurar se uma negociação ainda será possível e terá sentido.

Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia, e a comissária com o pelouro do comércio, Cecilia Malmstrom, estão hoje em Washington, tentando perceber se ainda existe alguma possibilidade da a UE evitar uma guerra comercial com os EUA. Haverá um encontro com Trump, que classificou a UE de ser “inimiga” da América, pois – disse ele – prejudica a economia americana com restrições comerciais. O que é falso, pois o nível médio dos direitos aduaneiros na UE e nos EUA não é alto (anda à volta de 3%) e até era em 2015 marginalmente superior na América. Só que Trump considera, como os mercantilistas do séc. XVIII, que existir um défice comercial dos EUA com a UE significa que os europeus estão a explorar os americanos.

Não se espera que Trump tenha mudado de opinião, por isso não existe qualquer otimismo quanto a esta missão. Nem a Casa Branca tem acolhido os protestos de empresas e associações empresariais dos EUA que se sentem ameaçados pelas barreiras pautais que Trump quer impor – por exemplo, direitos aduaneiros de 25% sobre a importação de automóveis europeus no mercado americano, com a justificação delirante de tal importação pôr em risco a segurança nacional dos EUA.

Por não ter ilusões, a Comissão Europeia prepara uma nova lista de medidas retaliatórias contra as previsíveis restrições adicionais dos EUA, visando atingir os bens e serviços que mais “doam” aos americanos – a agricultura, por exemplo. A retaliação é permitida pela Organização Mundial de Comércio, instituição que Trump despreza, como aliás despreza todas as organizações multilaterais. E, embora a escalada de parada e resposta em matéria de obstáculos ao comércio internacional trave o crescimento económico mundial e afete negativamente todos os envolvidos, a verdade é que não há outra forma de reagir quando um país decide desencadear uma guerra comercial. A UE já respondeu aos impostos americanos sobre alumínio e aço, elevando os direitos sobre a importação de produtos selecionados, incluindo whisky Bourbon, manteiga de cacau, motociclos e “blue jeans”.

Revela o jornal “Financial Times” que um importante grupo de Estados membros da UE, nomeadamente a França e a Holanda, já se manifestou contra a hipótese de a UE negociar debaixo de ameaças. Esses países estão contra quaisquer negociações com Washington enquanto se mantiver o aumento de direitos sobre o aço (25%) e o alumínio (10%), bem como a ameaça quanto aos carros. Já na Alemanha, o país europeu mais prejudicado caso Trump imponha elevados impostos aduaneiros sobre a importação de automóveis, Merkel prefere uma posição europeia menos agressiva, explorando todas as possibilidades de entendimento com Washington antes de retaliar. Por isso Juncker e C. Malmstrom estão na capital americana, não para negociar, mas para apurar se uma negociação ainda será possível e terá sentido.

É certo que muitos congressistas federais americanos, antes de mais os pertencentes ao partido republicano, tradicional defensor do comércio livre, não gostam de guerras comerciais. Mas receiam perder votos nas eleições intercalares de novembro, caso publicamente tomem posição contra a guerra comercial de Trump.


Este conteúdo é feito no âmbito da parceria Renascença/Euranet Plus – Rede Europeia de Rádios. Veja todos os conteúdos Renascença/Euranet Plus


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