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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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Opinião de Francisco Sarsfield Cabral

A desconfiança dos portugueses

23 jul, 2018 • Sarsfield Cabral • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Exige-se total transparência em instituições e iniciativas destinadas à prática do bem, para não serem aproveitadas na prática do mal.

A suspeita de que terá havido graves irregularidades na atribuição de apoios financeiros às vítimas dos fogos florestais em Pedrógão Grande provoca uma sensação de forte incomodidade. É que se trata de dinheiro generosamente doado por inúmeros portugueses para ajudar quem muito sofreu e ainda sofre com esse desastre. É repugnante a possibilidade de alguém aproveitar um grande gesto de solidariedade para proveito próprio e indevido. Oxalá tal possibilidade se não confirme.

Mas, a confirmar-se, não será caso único. Nos últimos anos têm-se levantado sérias suspeitas de desvio de dinheiros na área da solidariedade social - um dos últimos casos que vieram a público foi o da “Raríssimas” (que trata doentes de doenças raras), instituição que felizmente parece já ter ultrapassado o escândalo. Essas suspeitas levam um número crescente de pessoas a recearem canalizar donativos para instituições que precisam de dinheiro para ajudar os mais pobres.

Não admira que os que tentam ganhar dinheiro de forma iníqua utilizem organizações e iniciativas que têm como lema a generosidade e a ajuda aos outros. É uma conveniente cobertura para a ilegalidade. Recorde-se B. Madoff, o americano que montou um monumental esquema de roubo em pirâmide - o chamado esquema Ponzi, que paga a quem lá mete dinheiro com as anteriores entradas, como por cá, a outra escala, fez a célebre D. Branca. Madoff era um conhecido benfeitor de instituições de solidariedade social judaicas e cristãs. Dava-lhe boa imagem...

Um recente Inquérito Social Europeu, que se encontra no Portal da Opinião Pública da Pordata, coloca os portugueses como o povo europeu que menos confia nas pessoas, juntamente com os polacos. Somos simpáticos e abertos aos estrangeiros, mas desconfiamos uns dos outros.

Há fatores históricos que podem explicar, pelo menos em parte, a nossa desconfiança. Vários séculos de Inquisição, por exemplo. Mais recentemente tivemos quase meio século de censura e PIDE, obrigando a não confiar muito nos outros. Já depois do 25 de Abril, a implosão do grupo BES e acusações graves a políticos e gestores de topo abalaram a nossa confiança na própria democracia.

Por isso se exige a maior transparência possível em instituições e iniciativas criadas para a prática do bem, de modo a que não sejam aproveitadas para praticar o mal. Transparência que sabemos nem sempre ser valorizada nem concretizada.

Comentários
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  • Helder Marques
    23 jul, 2018 Lisboa 09:36
    O sr apresenta razões históricas para os portugueses desconfiarem uns nos outros, mas a grande verdade de isso acontecer, chama-se Justiça. O sr relembra o caso Madoff, que foi resolvido rapidamente e o BES que está por resolver, mas esquece-se de mencionar os que foram condenados em tribunal mas continuam a agir como se nada tivessem feito e ainda por cima sem estarem presos, claro que são poderosos devido a política e a corrupção que existe em Portugal, incluindo a própria Justiça, mas para manter o povo em sentido, condenam-se quem não tem dinheiro nem importância. Esse é o real problema, uma Justiça herdada na suposta superioridade das pessoas supostamente importantes.