20 jul, 2018
O Governo, bem como Movimento Pelo Interior, lamentam o desaparecimento do "interior" e propõem medidas concretas para o contrariar.
Estas políticas só têm um problema: verdadeiramente não existe "interior" em Portugal. Por algum motivo somos chamados um "país à beira-mar plantado". Chamar "interior" a Évora, por exemplo, poderia fazer sentido há 50 anos, mas não faz muito sentido no séc. XXI.
Deixem-me partilhar a perspectiva de um residente em Nova Iorque. Há milhares e milhares de pessoas que vivem nos estados de Pennsylvania ou Connecticut e trabalham (diariamente) em Manhattan. Por vezes, as distâncias não são muito diferentes de Lisboa a Évora. Pessoalmente, acho uma loucura viver tão longe do local de trabalho, e não sei bem como é possível manter esse ritmo de transporte diário. No entanto, estou certo de uma coisa: se eu dissesse a um dos "commuters" de Allentown (Pennsylvania) que ele vive no interior dos Estados Unidos, ele acharia piada à noção, mas claramente responderia que ele vive na costa Este dos Estados Unidos, não no interior.
Façam o seguinte exercício: escrevam Allentown no Google maps; carreguem no botão do zoom até aparecer Nova Iorque e Chicago no mapa; e digam-me agora se acham que Allentown fica no interior.
Talvez o leitor pense "Isso é nos Estados Unidos, onde a infraestrutura de transportes é melhor que em Portugal". Ao que respondo: isso era verdade há 50 anos, mas hoje em dia, entre comboios e autoestradas, temos uma infraestrutura muito melhor do que a americana (obrigado, União Europeia).
É indiscutível que se verificam em Portugal variações significativas na concentração populacional. No entanto, enquadrar este problema numa dicotomia "litoral/interior" é um pouco exagerado.