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João Ferreira do Amaral
Opinião de João Ferreira do Amaral
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​Portugal em risco

29 jun, 2018 • Opinião de João Ferreira do Amaral


Quando este texto vier a público deve estar a decorrer a cimeira europeia que prioritariamente abordará a questão das migrações.

Há poucos dias atrás, realizou-se em Meseberg, como preparação para a cimeira geral, uma cimeira bilateral Merkel-Macron. O resultado desta deve-nos preocupar – e muito.

Pelo que se deduz da declaração final, os dois, sem o dizerem, comprometem-se a prosseguir o modelo de integração europeia, cujas origens vêm desde o tratado de Maastricht e que se tornou muito mais chocante a partir de 2010: ou seja, apostam num pseudo-federalismo governado por um directório constituído pela Alemanha e a França (o que, apesar de tudo, é uma diferença em relação ao directório dos piores tempos da crise, que era constituído apenas pela Alemanha).

A divisão de trabalho entre os dois dirigentes é óbvia. Macron encarrega-se das grandes frases de um federalismo extremo, continuando a apregoar as tolices da “soberania europeia” e do protectorado europeu e apostando num papel dominante da França no domínio militar. Mas , claro: não se esquecem os dois que é preciso reforçar o poder do directório e daí o acordo para reduzir ainda mais as decisões europeias que têm de ser tomadas por unanimidade e para deixar de haver um comissário por cada país. Erdogan não faria melhor.

Quanto a Merkel encarrega-se do que verdadeiramente interessa e dai ser proposta uma alteração institucional da zona euro que, a ser aprovada, tornaria mais prolongada e penosa a austeridade a impor aos países devedores, uma completa sujeição ao directório, através do reforço da condicionalidade na prestação de eventual apoio financeiro.

O risco é tremendo e Portugal pode estar a jogar a sua sobrevivência como país soberano membro da comunidade internacional nesta cimeira geral.

E o cenário é ainda mais perigoso se nos lembramos que os aspectos relativos às migrações que, justificadamente, serão preponderantes, poderão servir para esconder decisões que decorram do acordo de Meseberg.

Comentários
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  • Fernando Machado
    30 jun, 2018 Porto 15:11
    Muito bem observado. Nada mais a acrescentar. Parabéns Doutor.
  • MASQUEGRACINHA
    29 jun, 2018 TERRADOMEIO 15:37
    Subscrevo. Agora é esperar que a História volte a escrever direito por linhas tortas, e assistir de bancada ao que farão perante tal (tentativa de) cenário os visegrados e inliberais e restantes desalinhados avulsos. Ao que chegámos, gente decente a torcer para que gente indecente ponha na ordem a eixolândia... E ainda têm a lata de se queixar da ascensão dos populismos! É que, enfim, os populismos tão depressa ascendem como caem, enquanto que a teia que está a ser montada, colada à dependência do euro, será indestrutível, passará a ser considerada com aquele cinismo benevolente e pragmático com que se define a democracia: imperfeita, mas o melhor sistema possível. Erdogans contra erdogans, e no fim ganha a Alemanha, foi nisto que deu a UE.