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Conversas na Bolsa
Grandes debates e conversas no Palácio da Bolsa, no Porto. Organizadas pela Associação Comercial do Porto com o apoio da Renascença
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Conversas na Bolsa (23/04/2018)

Quem é que cria emprego?

24 abr, 2018 • Henrique Cunha


A pergunta é deixada por António Saraiva ao Governo, “que se vangloria com a criação de 169 mil postos de trabalho nos últimos anos”.

Num jantar no Palácio da Bolsa no Porto com empresários, economistas e gestores, o presidente da CIP-Confederação Empresarial de Portugal lembrou que "quem cria emprego e riqueza" são os empresários que "continuam a ser mal vistos, diabolizados, como mal feitores". Por isso, exige uma outra atitude para a dignificação dos empresários.

António Saraiva promete "manter esse combate" e garante que não vai ceder às pressões da esquerda parlamentar que "só aposta em reverter".

Perante empresários, gestores e também políticos - o jantar contou com a presença dos eurodeputados Paulo Rangel do PSD e Nuno Melo do CDS - Saraiva explicou porque "deixou de ter credibilidade nos acordos de concertação social".

"O Governo tem vindo a falhar nos compromissos que celebra connosco e apenas se lembrou do aumento do salário mínimo até 2019 para 600 euros". Depois, numa alusão mais política, o presidente da CIP acusou o Executivo de tentar "desviar da concertação social para o Parlamento". Ainda assim, promete continuar a defender o setor nas reuniões e faz um apelo à união entre empresas e empresários.

Diz ser "urgente" uma coesão e ao mesmo tempo critica o excesso de associações, enquanto em Espanha "há uma grande confederação - a CEOE - e o mesmo se passa em Itália" . E é por isso que nesses países " nenhum Governo se atreve a legislar ou a alterar o que quer que seja sem ouvir as confederações patronais". Já em Portugal, conclui Saraiva "temos seis confederações patronais, temos mais de 700 associações, e isto divide-nos... enfraquece-nos".

Numa intervenção muito critica em relação à falta de financiamento das empresas e sobretudo quanto à carga fiscal; o patrão dos patrões defendeu a necessidade de se "ter mais ambição", porque "se compararmos o nosso crescimento com o de outros países da União Europeia constatamos que este crescimento de 2,7 do ano passado não é suficiente. Sabemos que se não crescermos no mínimo a 3% ao ano não resolvemos os nossos problemas".

Quanto ao financiamento da economia e das empresas, lamenta que a Instituição Financeira de Desenvolvimento - vulgarmente denominada de Banco de Fomento - continue a defraudar as espectativas, e lembra que "de 2011 até agora, a banca retirou da economia 42 mil milhões de euros".

"Não vivemos paraíso"

O anfitrião da noite, Nuno Botelho, que viu serem aprovadas as contas de mais um ano de exercício, por sinal "os melhores resultados e o melhor desempenho desde o início do século" começou por lembrar que "a saúde operacional, económica e financeira da Associação Comercial do Porto é um marco de independência e uma garantia de liberdade".

Depois, o presidente ACP da falou da importância do Norte de Portugal no contexto das exportações nacionais, recordando que a região "é responsável por 50% das exportações" e da sua "população ativa altamente qualificada". Botelho reconhece, contudo, que o "Norte tem vindo a criar emprego, abaixo da média nacional", mas assegura que "é quase única e exclusivamente criado no sector privado da economia".

Na sua intervenção, em que não faltou uma saudação especial ao convidado para o debate, Nuno Botelho deixou também um alerta. "Até pode parecer que está tudo bem, que somos um país rico, um país justo e moderno" mas "não é verdade, não vivemos no paraíso". Nuno Botelho diz que "para a economia funcionar e crescer precisamos de infraestruturas adequadas, estabilidade jurídica, fiscal e laboral e ainda equilíbrio nacional".

Nesta intervenção lembra que Portugal e o Norte, em particular, têm problemas estruturais graves aos quais é urgente dar resposta, pois "a ausência prolongada e o aflito adiamento de investimento publico só tem vindo a agravar esses problemas". Aproveita para deixar dois exemplos concretos dessa falta de investimento: O Hospital de S. João do Porto e o arranque das obras de alargamento do Porto de Leixões.

Temos "um Estado desorganizado, injusto que não cuida do que é seu" e que "é um devorador de recurso". O mesmo responsável lembra que a "carga fiscal portuguesa se situou em 2017 nos 37%, o valor mais elevado desde 1995, e dos mais altos da União Europeia", para concluir que " isto não é uma carga fiscal, isto é um autântico saque fiscal a que não correspondem sequer serviços públicos adequados e competentes e que asfixiam hoje as nossas empresas".

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  • AJ
    25 abr, 2018 fafe 18:59
    Estou plenamente de acordo com o Sr. António Saraiva! Todos os dias somos inundados de propaganda pelo governo e os seus apoiantes de esquerda, "todos presunçosos" , por "terem" criado milhares de empregos! Assim pergunto QUANTOS EMPREGADOS TÊM AO SEU SERVIÇO...CATARINA MARTINS...MARIANA MORTÁGUA... ANTÓNIO COSTA...MARIO CENTENO etc. Pois é, todos sabemos que não sabem como se paga um sálario! Não fosse a conjuntura internacional favorável e o dinamismo da economia e, certamente, o nosso "milagreiro" governo estaria menos vaidoso com os resultados. Há uma divergência de fundo entre esquerda e direita, no tocante à economia...Para a esquerda esta começa quando recebem o salário ... Mas, quem se posiciona mais à direita, percebe que, para haver salário têm de existir empresas...Ou seja, investimento! E que o estado não é, (para pena de muitos), o dono da "carteira" dos empresários..... Claro que e´necessário que estes sejam cumpridores de leis e regras respeitando os nossos direitos enquanto trabalhadores! Agora quanto à criação de empregos...deixem-se de vaidades e, o "seu a seu dono",!
  • anónimo
    24 abr, 2018 portugal 22:39
    169.000 empregos! e durante esse mesmo tempo quantos foram polir esquinas? 169.000 trabalhadores e basta cada um dar de lucro por dia ao CHULO 1 € ( UM EURO), são 169.000 € CHULADOS não é verdade ? mas isto falando só num euro ! À GRANDA SARAIVA !!!!!!!!!!!! era te meterem num silo e cobrirem -te de moedas de euro, para ficares cheio ! ENTRE POBRE E RICOS (vilões) , não pode haver amizades - NUNCA HOUVE. O RICO SÓ SE SENTE FELIZ RODEADO DE MISÉRIA e ver a miséria a lamber-lhe as patas ou as castanholas. Bem, neste país ainda houve politico de coração, mas nesse tempo o Partido Socialista ainda não era, com certeza , um antro de corruptos e ladrões como diz Ana Gomes ( Mulher de coragem) e refiro-me ao GRANDE dr. Arnaut. Enfim, mais poderia dizer!
  • Trabalhador
    24 abr, 2018 cá 21:43
    "quem cria emprego e riqueza" são os empresários que "continuam a ser mal vistos, diabolizados, como mal feitores". Podem criar emprego mas não é por serem boas pessoas, é para terem gordos lucros. E a riqueza é feita pelos trabalhadores. quanto a serem malfeitores Se calhar, isso deve-se talvez a exemplos como a Jerónimo Martins que paga salários irrisórios ao mesmo tempo que muda a sede fiscal para a Holanda para pagar menos impostos. Ou a tácticas como a da Padaria Portuguesa que quer uma Legislação Laboral que legalize a Escravatura. Ou o facto de os salários estarem estagnados enquanto os lucros aumentam e quanto a quadro de empresa, nem pensar, tudo precário e pronto para ir para a rua mal comece a reivindicar. Ou será do facto de os gestores normalmente levarem para casa, 20 ou 30 vezes mais dinheiro que o trabalhador pobre?