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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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​Reforma do euro

19 abr, 2018 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


O eixo franco-alemão só tem Macron a puxar por reformas na UE. O novo governo alemão não parece entusiasmado com as ideias francesas.

O presidente francês, Macron, encontra-se hoje em Berlim com a chanceler Merkel. Um primeiro passo para o tão esperado relançamento da integração europeia, depois do Brexit, e em particular para as necessárias reformas do euro? Creio ser prudente moderar qualquer otimismo.

É verdade que Macron, um europeísta sem complexos, tem a coragem das suas convicções. Por isso discursou na terça-feira perante o Parlamento Europeu, alertando para as “democracias iliberais” que ameaçam o modelo europeu e os seus valores – denúncia que, lamentavelmente, ainda não foi feita pelo grupo PPE (ao qual pertencem o PSD e o CDS). Mas as ideias reformistas de Macron sobre a integração europeia e o euro foram recebidas sem grande entusiasmo pelos parlamentares.

O principal obstáculo é a Alemanha, apesar do europeísmo com que o SPD se apresentou às eleições de Setembro. Merkel conhece o sentimento que prevalece na sociedade alemã e que não é favorável a novidades como um orçamento próprio para a zona euro e um ministro das Finanças comum aos países da moeda única. No longo acordo escrito da coligação governamental entre a CDU-CSU e o SPD não há uma palavra sequer para a união bancária. Berlim continua a rejeitar um seguro comum para os depósitos bancários na zona euro.

Recorde-se que a Alemanha só a contragosto – e sem qualquer referendo, que provavelmente daria “não” – trocou o seu querido marco pelo euro. O horror que os alemães têm à inflação e aos desequilíbrios orçamentais que a impulsionam e minam o poder de compra da moeda não nasceu na híper inflação de 1923, quando o banco central alemão, sem dinheiro, começou a imprimir notas, resultando numa louca subida de preços: uma refeição era mais cara no fim do que no princípio. Como muitos outros, eu julgava que a destruição das poupanças das famílias alemãs com essa híper inflação tinha sido o grande abalo que provocara a preocupação alemã pela poupança e pelas contas públicas equilibradas. Mas um recente artigo do “Financial Times” mostrou que essa mentalidade vem muito mais de trás. Já se notava nos vários países que então constituíam a Alemanha ainda não unificada nos séculos XVII e XVIII.

Por outro lado, o chamado eixo-franco alemão é importante na Europa comunitária, mas não é todo poderoso. Os países de Leste e do Norte da UE já se manifestaram em conjunto contra subidas das contribuições para Bruxelas e maiores ajudas aos países do euro em dificuldades financeiras.

Mas o maior obstáculo que Macron enfrenta para concretizar pelo menos algumas das suas propostas europeias está em França: se ele não conseguir, como aconteceu a outros governantes franceses no passado, vencer a grande contestação que as suas reformas nacionais estão a provocar, então Macron não terá condições para mudar o que quer seja na Europa. O que seria uma pena.

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