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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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Fraca concertação

27 mar, 2018 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


A maioria dos países da UE expulsou diplomatas russos. Portugal não. Porquê?

A reação mundial às atitudes da Rússia atingiu uma dimensão nunca vista. Os EUA de Trump (que, contra o conselho dos seus colaboradores, deu parabéns a Putin pela sua reeleição) expulsaram nada menos de 60 diplomatas russos.

Na União Europeia (UE), a maioria dos Estados membros expulsou diplomatas russos. Até o primeiro-ministro da Hungria, um declarado amigo e admirador de Putin, expulsou um diplomata russo. O mesmo fizeram os países bálticos, vizinhos da Rússia e sempre preocupados com eventuais ataques vindos do outro lado da fronteira. Portugal não, nada, zero. Porquê?

Não será, certamente, porque o governo português queira branquear as manifestações de agressividade russa na Ucrânia ou a desumanidade dos ataques da força aérea russa na Síria, matando milhares de civis, ou, ainda, por desculpar ou ignorar as mais do que evidentes interferências russas, via internet, nas eleições nos EUA e noutros países. Também não será por duvidar da origem russa da tentativa de assassinato, perto de Londres, de um espião russo que traiu o KGB – caso que o governo português expressamente condenou.

Há quem avance com a hipótese de ser uma contrapartida para o apoio russo à candidatura de António Guterres a Secretário-Geral da ONU – Moscovo começou por apoiar uma candidata búlgara, ex-comissária da UE.

Especula-se, também, que o governo de António Costa não quis desagradar ainda mais aos órfãos do comunismo soviético, como o PCP, que ainda vêem em Putin, ex-agente do KGB, algo que lembra a gloriosa URSS. Será por Portugal se encontrar geograficamente longe da Rússia? Não, porque a Espanha expulsou dois diplomatas russos. E a Irlanda, país neutro que não pertence à NATO, expulsou um.

No comunicado em que o Ministério dos Negócios Estrangeiros informou ter “tomada boa nota” da expulsão de diplomatas russos por parte de vários Estados membros da UE.

No entanto, o documento nada diz sobre Portugal seguir esse exemplo, afirma-se acreditar “que a concertação no quadro da União Europeia é o instrumento mais eficaz para responder à gravidade da situação presente”. Mas, pelos vistos, trata-se, da parte portuguesa, de uma concertação limitada.

Decerto que nem todos os membros da UE expulsaram diplomatas russos. Mas Portugal, sempre empenhado em participar nos grupos mais avançados da integração europeia, para ter voz credível nos assuntos comunitários, desta vez encolheu-se e ficou com a minoria. Uma falha na solidariedade europeia.

Comentários
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  • Justus
    29 mar, 2018 Espinho 13:15
    Sarsfield Cabral não tem memória, porque se a tivesse lembrar-se-ia das descaradas mentiras dos EUA e do Reino Unido no tocante às armas de destruição maciça no Iraque. Não havia dúvidas, elas existiam e depois viu-se. Também agora, como no passado, S. Cabral parte de uma incerteza para afirmar que a Rússia é culpada. Já vimos este filme inúmeras vezes e, por isso, estamos vacinados contra a mentira. Que alguns políticos e jornalistas sejam uns lambe botas, uns subservientes, sem dignidade nem brio patriótico, fazendo o que os outros mandam, é lá com eles. Portugal não deve ir atrás dos outros, deve ter ideias e diretrizes próprios, não deve ser um pau mandado. Ainda bem que a época dos lacaios terminou!
  • João Lopes
    28 mar, 2018 Lisboa 22:08
    Ou seja, solidariedade europeia era Portugal ter embarcado no «conto do vigário» da senhora Theresa May... O Francisco Sarsfield Cabral está a precisar de férias para descansar essa cabeça.
  • José Fragoso
    28 mar, 2018 Lisboa 19:48
    Acerca do caso «Skripal», ainda não existem provas de que foram os russos os autores do dito atentado. Por ventura, terá Francisco Sarsfield Cabral alguma prova de que foram os russos os autores deste acidente? Esta manhã, Julian Assange disse no seu twitter que os ingleses não tinham provas, o que levou um ministro de Theresa May a chamar de «minhoca miserável» a Assange. Por ventura, Francisco Sarsfield Cabral se congratula das palavras deste ministro britânico ou continuará a escrever, como escrevia nos tempos do governo de Marcelo Caetano? Infelizmente, o passado de Francisco Sarsfield Cabral é muito complexo. De lambedor de botas do fascismo, passou a engraxador do governo de Vasco Gonçalves, para hoje acabar num autêntico servidor dos donos da comunicação social, mais os seus «fake news».
  • Geraldes Lino
    28 mar, 2018 Lisboa 19:00
    Sr. Cabral, será que não exagerou no texto que acabou de escrever? Será que «António Costa não quis desagradar aos órfãos do comunismo soviético, como o PCP, que ainda vêem em Putin, ex-agente do KGB, algo que lembra a gloriosa URSS»? Infelizmente, esta ideia não foi especulação de ninguém. Ao que consta, na Renascença, a ideia de «orfãos» do comunismo soviético que se revêem em Putin, é algo seu, Sr. Cabral. Em vez de usar os seus textos para provocar a inteligência daqueles mais esclarecidos, deveria ocupar-se em procurar um bom médico para curar essa demência, muito capaz da estupidez que, hoje, apareceu escrita no seu artigo de opinião.