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Há mais vida para lá do digital

12 mar, 2018 • Opinião de Manuel Pinto


Já há países em que a dependência das tecnologias de informação e comunicação consta do plano nacional de dependências.

Um número cada vez maior de cidadãos, particularmente, os mais jovens, vive, estuda ou trabalha profissionalmente em frente a ecrãs. É a consequência de um sempre crescente número de tarefas de informação e comunicação que estão dependentes de máquinas e de redes.

A par das oportunidades, aprendizagens e descobertas que esta experiência permite, começam a manifestar-se problemas preocupantes, nomeadamente de dependência.

A partir deste ano, e na sequência de muitas investigações desenvolvidas, a Organização Mundial de Saúde decidiu reconhecer o problema da dependência dos videojogos e jogos digitais em rede.

Não o faz ainda para a Internet em geral ou, mais especificamente, para as redes sociais, mas o sinal está dado. Há já países, como por exemplo a Espanha, que incluíram a dependência das tecnologias de informação e comunicação no plano nacional de adições.

Os especialistas distinguem ser ‘adicto’ de usar as tecnologias e as redes de modo inadequado ou irresponsável. A adição, tal como ocorre com substâncias, envolve obsessão no consumo, intolerância à abstinência e alteração de comportamentos relativamente a dimensões vitais do quotidiano, com impacto nas rotinas e nos comportamentos sociais.

Em rigor, os problemas que se têm vindo a manifestar à volta dos ecrãs não são novos. Muitas formas de uso da banda desenhada e até da rádio, para não referir a televisão, foram, ao longo do século passado, abordados sob a ótica dos efeitos de dependência (um célebre livro de Marie Winn, do final dos anos 70, sobre TV e crianças, intitulava-se precisamente “The Plug-in drug”).

É, contudo, de salientar que há, nos nossos dias, um quadro novo: o número e a diversidade de funções de um simples “smartphone”, combinado com a atratividade das redes sociais e dos jogos em rede, da miniaturização e da portabilidade dos ecrãs ampliam as possibilidades, mas também os riscos. E desde idades cada vez mais precoces.

As dificuldades estão seguramente muito para lá da relação entre a pessoa e a máquina. Mas é verdade que é cada vez mais inconcebível para um adolescente ver-se desconectado da internet.

“Sempre ligado e sempre a usar”, pode ser o lema. O desafio poderá residir em explorar o que de interessante existe também no mundo analógico. Sim, porque há mais vida para além do digital.
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  • MASQUEGRACINHA
    12 mar, 2018 TERRADOMEIO 18:19
    E, em matéria de tecnologias da informação e comunicação, ainda a procissão vai no adro, embora já não deva tardar muito para as novidades chegarem às massas a preços gadget low cost. Tudo a hologramar em real time enquanto pena ensanduichado no comboio suburbano. Um must da civilização, o gadget low cost, dentro doutro must da civilização, o comboio suburbano, provando que a civilização anda mesmo a diferentes velocidades. O referencial continua a ser a boa e velha alienação, mas cada vez mais desejada e desejável. Quanto à vida que exista para lá do digital, será como ter Picassos originais na parede da sala: só para quem pode. É uma vida que terá que ser estudada pela ciência económica, que se debruça sobre os bens escassos, e reservada à nata da humanidade. Enfim, continuará tudo a ser exactamente como já é, mas com o gado mungido muito mais entretido e, logo, muito mais feliz.