25 fev, 2018 • José Bastos
São adolescentes que podiam ter tido o trágico destino de 14 colegas massacrados a 14 de fevereiro na secundária Marjory Stoneman Douglas, em Parkland, na Flórida. Desde 1 de janeiro, foi a 18ª vez que tiros foram disparados numa escola dos Estados Unidos. Leu bem: incidente nº18 em 2018!
Desde o massacre da secundária de Columbine, Colorado, em 1999, mais de 150 mil alunos em 170 escolas dos Estados Unidos testemunharam disparos de armas de fogo, na contabilidade do “Washington Post”.
Os sobreviventes de Parkland sabem como fazer passar um ponto de vista nas redes sociais e, sob o lema "a marcha das nossas vidas", prometem levar milhares a Washington, a 24 de março, numa megamanifestação juvenil para a história.
No Conversas Cruzadas deste domingo, o professor universitário Luís Aguiar-Conraria diz que se chegou a um cenário-limite quando crianças de 6 e 7 anos participam em simulacros de ataques armados.
"Estudei nos Estados Unidos e em todas as escolas e universidades estamos constantemente a fazer simulacros de incêndios. Mas, neste momento, já se fazem simulacros de ataques de pessoas armadas. Explica-se às criancinhas de seis e sete anos onde se devem esconder e como reagir. Há uma criança que chegou a casa a dizer: 'Papá não quero mais estas sapatilhas com luzinhas porque se estiver escondida as luzinhas denunciam-me!'. Quando alguém começa a ver este tipo de discurso na boca de uma criança isto tem de impressionar as pessoas e tem de ter impacto na sociedade", diz o professor da Universidade do Minho.
É a perplexidade do economista Luís Aguiar-Conraria, mas também a esperança de que a chamada "geração Columbine" lidere a mudança.
"O mundo é tão esquisito que no país mais poderoso são os adolescentes que mostram ter mais bom senso. Quando os adolescentes perdem o direito a ser tontinhos e são eles que pedem aos adultos que restrinjam o acesso a armas...", sustenta Luís Aguiar-Conraria.
Já o jurista Nuno Botelho critica a inaptidão da classe política em agir para controlar o acesso a armas de fogo, desde logo, a começar pela Casa Branca.
"Estamos perante uma incapacidade da administração Trump em lidar com o problema. Quando o presidente de um país diz que a solução é armar os professores que podem proteger os alunos. Esquece que seriam os primeiros alvos numa operação de resgate. Como distinguir os professores dos atiradores? Com um letreiro "professor armado"? Estamos já no domínio do hilariante", conclui Nuno Botelho.
Por seu turno, o presidente da Cáritas do Porto, Paulo Gonçalves reconhece a complexidade do problema.
"Vivemos já no universo do esquizofrénico. Todos temos a expectativa de que o dia 24 de março seja um ponto de viragem, já são casos em demasiada. Mas ainda que no plano federal sejam tomadas algumas medidas tenho dúvidas que em alguns estados em particular resulte em algo de concreto".
Será "a geração Columbine" a primeira a protagonizar uma forte resistência civil à lógica prevalecente das armas? É uma das questões para o Conversas Cruzadas com Luís Aguiar-Conraria, Nuno Botelho e Paulo Gonçalves, num programa que olha também para a primeira semana de Rui Rio à frente do PSD e para as razões de sucesso da indústria do calçado.