26 dez, 2017
Estou quase convicta de que nunca escrevi um balanço do ano. Como a maioria das mulheres modernas, salvo as que se dedicam à economia ou às finanças, as balanças que concentram as minhas atenções fazem-me circular entre a cozinha e a casa de banho, numa tensão mais ou menos permanente, dolorosa, desesperante. Mas eis quando, no cume, ápice, extremo, final do mais ambivalente dos anos, uma figura solene, convicta, densa e experiente me instila motivação para tão original, necessária e definitiva análise. Falo de Maria Cavaco Silva e a estupenda, detalhada, esclarecedora entrevista dada ao jornal “Sol” (a quem agradeço a ideia, o esforço e o trabalho) e, sobretudo, ao mote do mega, magnífico e magnético título jornalístico da peça: “Faz imensa falta uma primeira dama em Belém”. Ah!, este desabafo, partilha, constatação, acertou-me em cheio, atingiu-me o âmago, transcendeu-me a mente com a emoção. Em parágrafo próprio me explicarei. Devo advertir o generoso leitor de que me esforcei animicamente, intelectualmente e motivacionalmente para ler toda a entrevista e, assim, fugir à armadilha de considerar declarações retiradas do seu verdadeiro, pertinente e exacto contexto ou, o que mormente se chama, descontextualizadas. Se soubesse escrever isto em francês, diria que também era inspiração da inspiradora senhora.
A segunda razão porque votei MRS baseou-se no profundo conhecimento que este tem dos poderes presidenciais, do sistema de partidos e dos meandros da administração pública, assim como pela coragem pessoal e política que sempre demonstrou, e que úteis é esta quando se trata de cumprir o seu dever constitucional e moral de Primeira Figura de um Estado democrático. Quanto a MCS, recomendo um longo, profundo e demorado silêncio: por um lado, para não nos estar sempre a recordar a longa, marcada e inexplicável inação do esposo Presidente num momento particularmente crítico da história recente, quando a maioria da população, quando não dos seus eleitores, se tem esforçado por evitar estar sempre a bater nesse saco de boxe sempre a jeito …. Em segundo lugar, porque depois da labuta, feridas e ansiedade de anos de crise, de ouvir as incompreensíveis histórias com os amigos do BES, mais das ações da sociedade do não sei quantos e das patetas reclamações de moralidade impoluta, ainda não é capaz de fingir ter em consideração que são os impostos dos portugueses que pagam o Convento, cenário idílico e inútil das amenas cavaqueiras dos pombinhos. Uma triste desfigura, pois.