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Estão a raptar crianças em Cabo Delgado para serem soldados e casarem

20 jun, 2021 - 15:04 • Henrique Cunha

Último balanço da ONU aponta para 750 mil deslocados, dos quais 46% são crianças e jovens.

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A Diocese de Pemba denuncia rapto de crianças em Cabo Delgado que acabam por ser incorporadas no exército terrorista “como crianças soldados… treinadas para matar”. Segundo a ONU a violência fez 750 mil deslocados, dos quais 46% são crianças e jovens.

O alerta é do responsável pela comunicação da Diocese de Pemba que comunicou à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre “o desaparecimento de muitas crianças”. De acordo com o padre Fonseca, há relatos de deslocados que chegam a Pemba e dizem que os seus filhos foram raptados.
“São rapazes e raparigas, mas meninos são utilizados como crianças soldados. São treinados para matar e as meninas, infelizmente, são vítimas de uma violência atroz a nível sexual, sendo muitas vezes forçadas a casar com muçulmanos e obrigadas a converter-se à religião e portanto”, descreve Catarina Bettencourt Martins, presidente da AIS.
Apesar de nas últimas semanas não se falar da situação em Cabo Delgado, esta responsável pede atenção para o problema e lembra que “segundo os últimos dados da ONU há 750 mil deslocados em Moçambique”.
Catarina Martins diz que “não podemos esquecer uma população extremamente pobre foi obrigada a fugir sem nada, encontrando-se numa situação terrível”. Portanto, sem a ajuda da comunidade internacional não será possível sobreviverem.

ONG dá resposta humanitária diversificada em Metuge

A Organização Não Governamental (ONG) “Ajuda em Ação” apoia mais de 34 mil crianças deslocadas no distrito de Metuge e fala de números que “são um reflexo duro da violência que se tem vivido em Cabo Delgado desde 2017 e que se tem intensificado no último ano e meio”. E de acordo com esta organização de origem espanhola adianta que “dos 735 mil deslocados cerca de 46 por cento são crianças e jovens que, por vezes, acabam por se perder das suas famílias no momento dos ataques e chegam sozinhos, desorientados e com medo, depois de terem caminhado a pé durante dias a fio ou de viajarem em autocarros locais lotados de deslocados ou em transportes aéreos que os retiraram das zonas de conflito”.
De acordo com a Organização Internacional para as Migrações (OIM), num dos seus últimos relatórios, existem entre a população deslocada 1.410 crianças separadas das suas famílias.
No Dia Internacional da Criança Africana, celebrado a 16 de junho, a ONG alerta para o impacto desta situação no futuro das muitas crianças com quem trabalha e que “São acolhidos em campos de deslocados ou famílias anfitriãs”
No distrito de Metuge, devido ao crescimento do fluxo de deslocados, a Ajuda em Ação, juntamente com as autoridades locais, a OIM e o ACNUR, puseram em marcha uma resposta de emergência humanitária para construir abrigo para mais de 10 mil famílias deslocadas e apoiá-las na reconstrução da sua vida.
Contudo, a organização alerta para o facto de “necessidades irem muito além de abrigo e segurança”. A ONG lembra em especial “o caso das crianças que precisam de assistência alimentar e médica, apoio psicológico, formação educativa e ferramentas que lhes permitam construir e idealizar um futuro melhor, distante da violência que conheceram nestes últimos anos e que terá um grande impacto a longo prazo na sua vida, embora ainda difícil de avaliar”.
Entre mais de 336 mil crianças e jovens deslocados oriundos do norte do país, mais de 85 mil refugiaram-se em Metuge, um dos distritos de Cabo Delgado onde a ONG Ajuda em Ação já está presente há mais de cinco anos e trabalha com 34 mil jovens e crianças deslocadas em acampamentos e comunidades hospedeiras. É aí que as suas equipas unem todos os esforços para suprimir as muitas necessidades que existem. De acordo com a ONG “são providenciados bens de primeira necessidade, presta-se apoio na construção de abrigos para as famílias, constroem-se e reabilitam-se pontos de acesso a água, latrinas e instalações higiénicas, distribuem-se kits de higiene e de dignidade e constroem-se salas de aulas, de modo a garantir o acesso à educação e a proteção dos direitos dos grupos mais vulneráveis, as crianças”.

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