17 jun, 2021 - 12:11 • Liliana Carona
No último domingo de junho, há 130 anos, a Senhora do Desterro é palco da Festa de S. Pedro. Uma devoção centenária, numa povoação que não chega a duas dezenas de habitantes.
António Abrantes é secretário da assembleia geral da Confraria Senhora do Desterro, que promove a festa de S. Pedro, mas este ano, tal como no ano passado, não há festa. Restam as memórias de uma tradição com 130 anos.
“A festa mais emblemática e concorrida, com vendedores, bancas de artesanato, eu lembro-me quando vinham vendedores de arreios para animais, produtos em vias de extinção”, diz o organizador, salientando que a pandemia agravou a diferença do passado para o presente.
“Acentuou-se bastante essa diferença, as coisas mudaram da noite para o dia. As tradições começam a dissipar-se”, lamenta.
José Luís, 65 anos e Maria de Lurdes, 64, vivem na Senhora do Desterro e tinham sempre a casa cheia, por esta altura do ano, mas a covid-19 trouxe o afastamento.
“A covid-19 não deixam vir os turistas e as gentes que gostavam de visitar a Senhora do Desterro e os nossos filhos que estão longe e vinham sempre cá, nas festas”, revela José Luís. “Ajudávamos a limpar, a montar os andores, colaborámos sempre, nem era preciso pedir, aqui é uma família. Até sem festas, temos as casas enfeitadas”, insiste Maria de Lurdes.
António, 52 anos, é o principal rosto da organização das festas de S. Pedro, sobe ao coreto, onde pelo segundo ano, não vai haver baile.
“Mesmo a missa campal, mesmo que se fizessem marcações, ou fixassem lugares, seria impossível, qualquer demarcação não duraria cinco minutos, as pessoas tendem a aproximar-se, a estar com as pessoas. De modo que se optou por não fazer nada”, assume o responsável, que recorre a uma analogia para explicar o sentimento que o invade.
“É como estar ligado à máquina e desligarem-me a máquina, este património exige bastante cuidado. Essa festa trazia consigo a generosidade de alguns mecenas”, refere.
No último sábado de junho havia sempre bailarico, febras e caldo verde e, no domingo, a componente religiosa, missa e procissão. Este ano está prevista a realização da missa, seguindo as normas da Direção-Geral de Saúde e da Conferência Episcopal Portuguesa.
José Luís e Maria de Lurdes vão ter de mesmo de esperar e acreditar que no próximo ano a Senhora do Desterro vai voltar a ver os peregrinos e a ouvir as ladainhas.
“Esperamos bem que sim, que para o ano possamos comemorar, até pensava que já era este ano e se não for para o ano, isto perde-se e as tradições são importantes para as pessoas mais idosas”, defende Maria de Lurdes.
A imagem de S. Pedro vai ser enfeitada no andor “para não deixar esquecer e que se resolva a pandemia para retomar estas tradições, achamos que são elementos identitários que marcam a vila de S. Romão”, conclui António Abrantes.