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Cabo Delgado

Ajuda em Ação apoia mais de 34 mil crianças deslocadas no distrito de Metuge

16 jun, 2021 - 12:02 • Olímpia Mairos

No Dia Internacional da Criança Africana, a Organização Não Governamental alerta para o impacto dos conflitos em Cabo Delgado no futuro das muitas crianças com quem trabalha.

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A Organização Não Governamental Ajuda em Ação, juntamente com as autoridades locais, a UNICEF, o UNHCR/ACNUR e a Organização Internacional para as Migrações (OIM), está a apoiar mais de 10 mil famílias deslocadas, incluindo 34 mil crianças e jovens, no distrito de Metuge, na região de Cabo Delgado, Moçambique.

A escalada do conflito armado em Cabo Delgado obrigou milhares de pessoas a fugirem das suas casas, “só com a roupa que levavam no corpo, em busca de um abrigo seguro, longe da violência”, descreve a Ajuda em Ação empenhada em “dar abrigo, acesso a água e saneamento básico, educação e proteção às vítimas de violência”.

No Dia Internacional da Criança Africana, a ONG alerta para o impacto da situação de conflito no futuro das muitas crianças que apoia.

Segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM), num dos seus últimos relatórios, existem, entre a população deslocada, 1.410 crianças separadas das suas famílias.

“Cerca de 46% são crianças e jovens, vítimas deste conflito armado, que, por vezes, acabam por se perder das suas famílias no momento dos ataques e chegam sozinhos, desorientados e com medo, depois de terem caminhado a pé durante dias a fio ou de viajarem em autocarros locais lotados de deslocados ou em transportes aéreos que os retiraram das zonas de conflito”, detalha a organização Ajuda em Ação.

As crianças são acolhidas em campos de deslocados ou famílias anfitriãs, mas o alívio da chegada para muitos levanta “consequências graves para os já escassos recursos” de outros, alerta o diretor regional do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados na África Austral, Valentín Tapsoba.

No distrito de Metuge, devido ao crescimento do fluxo de deslocados, a Ajuda em Ação, juntamente com as autoridades locais, a OIM e o ACNUR, lançaram uma resposta de emergência humanitária para construir abrigo para mais de 10 mil famílias deslocadas e apoiá-las na reconstrução da sua vida.

“Mas as necessidades vão muito além de abrigo e segurança. Especialmente no caso das crianças que precisam de assistência alimentar e médica, apoio psicológico, formação educativa e ferramentas que lhes permitam construir e idealizar um futuro melhor, distante da violência que conheceram nestes últimos anos e que terá um grande impacto a longo prazo na sua vida, embora ainda difícil de avaliar, alerta a ONG, neste Dia da Criança Africana.

Resposta humanitária diversificada em Metuge para apoiar crianças

De acordo com a ONG Ajuda em Ação, entre mais de 336 mil crianças e jovens deslocados oriundos do norte do país, mais de 85 mil refugiaram-se em Metuge, um dos distritos de Cabo Delgado.

A Ajuda em Ação está no terreno há mais de cinco anos e desenvolve a sua ação com 34 mil jovens e crianças deslocadas em acampamentos e comunidades hospedeiras e com as suas equipas procura “suprimir as muitas necessidades que existem”.

“São providenciados bens de primeira necessidade, presta-se apoio na construção de abrigos para as famílias, constroem-se e reabilitam-se pontos de acesso a água, latrinas e instalações higiénicas, distribuem-se kits de higiene e de dignidade e constroem-se salas de aulas, de modo a garantir o acesso à educação e a proteção dos direitos dos grupos mais vulneráveis, as crianças”, detalha a ONG em comunicado.

“As crianças sofrem muito com esta situação: perderam a sua rede social, a sua vida normal. Para restaurar a normalidade nas suas vidas, está a ser feito um grande esforço em comunidades como Saul, Taratara ou Pulo (distrito de Metuge) para as integrar no sistema educativo. No entanto, as infraestruturas, o número de professores e a qualidade da educação continuam a constituir grandes desafios”, conta o gestor de Programas da Ajuda em Ação Moçambique, Abide Nego.

O responsável sublinha ainda que “o acesso a uma educação de qualidade e a criação de emprego são outros pilares da ação da ONG para combater situações de risco como o trabalho infantil, os abusos a menores ou a entrada em redes de tráfico humano, perigos sempre à espreita em contexto de crises humanitárias”.

As doenças e a fome colocam em risco a infância

Segundo a Ajuda em Ação, com poucas condições, sem casa, sem emprego, sem meios de subsistência, famílias e crianças enfrentam uma situação angustiante, onde a fome se faz sentir e as doenças são uma ameaça velada com que têm de lidar diariamente.

De acordo com Abide Nego, “tem havido surtos de cólera nos campos e a malária tem um impacto muito forte na região. Além disso, existem níveis elevados de desnutrição, especialmente entre a população infantil”.

As Nações Unidas contabilizam 240 mil crianças numa situação de desnutrição aguda, 3.400 casos de cólera e 16 mortes em Cabo Delgado, só nos primeiros quatro meses do ano.

“A situação da Covid-19 vem agravar tudo ainda mais”, alerta a coordenadora de Ajuda Humanitária da ONG em Moçambique, Sophia Buller.

Cabo Delgado é uma das províncias moçambicanas com maior número de casos, mas num momento em que a segurança e alimentação estão em causa, a ameaça invisível da Covid-19 não é uma prioridade. Abide Nego nota que “existem esforços para garantir a sensibilização nos centros de acomodação”, mas “há dificuldade em distribuir máscaras” e refere que também não é fácil garantir o distanciamento social quer nos centros de acolhimento quer fora deles.

“Com a família de acolhimento chegam a viver debaixo do mesmo teto mais três ou quatro famílias deslocadas”, refere a responsável pela área de Ajuda Humanitária, destacando que mesmo o gesto de lavar as mãos regularmente é um desafio para estas pessoa que “não têm acesso a água”.

Apesar de, até ao momento, não existirem casos registados de Covid-19 nos centros, os responsáveis da Ajuda em Ação temem que a situação possa agravar-se, porque, explicam, “é impossível neste contexto verificar a existência de casos positivos e assegurar todas as medidas necessárias de prevenção contra a disseminação do novo coronavírus e apenas um caso pode levar a uma situação de rápida propagação que comprometa totalmente um sistema de saúde que é, por si só, já muito frágil”.

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