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Entrevista Renascença

Samu quer afirmar-se na I Liga com o Vizela depois de ter sido "um dos melhores" da segunda divisão

10 jun, 2021 - 09:00 • Eduardo Soares da Silva

Médio de 25 anos foi um dos principais jogadores da equipa de Álvaro Pacheco, que garantiu o regresso do Vizela à I Liga 36 anos depois da primeira e única participação.

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O Vizela regressou à I Liga 36 anos depois da sua primeira e única presença no principal escalão do futebol português. O médio Samu foi uma das grandes figuras da equipa orientada por Álvaro Pacheco e do campeonato, com nove golos e oito assistências.

Em entrevista à Renascença, o médio formado no Boavista e no FC Porto reconhece que terá sido "um dos melhores" da II Liga esta temporada. O Vizela tinha apenas duas vitórias nas primeiras oito jornadas do campeonato, mas não voltou a perder, num total de 26 jogos sem derrotas, desde a 8.ª até à 34ª jornada.

O grande objetivo imediato de Samu é afirmar-se na I Liga, depois de nunca ter tido oportunidade no Boavista, clube onde somou 26 jogos na equipa principal em seis temporadas.

Samu revela os segredos da caminhada do Vizela desde o Campeonato de Portugal até à I Liga, o período à experiência no Barcelona e a ambição de representar um grande.

Começando pela festa da subida. Como foram as celebrações depois do apito final da última jornada?

A festa foi o que se viu pelas televisões. Numa fase inicial no relvado, todos juntos. Juntou-se a família e por volta das 22h00 fomos no autocarro panorâmico pela cidade, festejámos com os nossos adeptos que foram importantes ao longo do ano.

O Vizela tem uma massa adepta bastante significativa. Sentiu-se isso ao longo da época mesmo sem público nas bancadas?

Claro que é sempre uma tristeza não ter os adeptos, mas desde o início que sentimos o apoio dos nossos. Foi, sem dúvida, importante para a nossa conquista. Sentíamos o apoio na chegada aos estádios, no nosso e no dos adversários. Foi muito importante vermos a envolvência da cidade inteira.

O Vizela veio do Campeonato de Portugal e conseguiu a subida à I Liga. O objetivo inicial era a manutenção ou já acreditavam que poderiam alcançar algo mais?

A realidade é que desde o início que pensámos sempre em nós. Fomos jogo a jogo, isso fez a grande diferença.

No início dissemos que iria ser um ano que ia ficar para a história. Assumimos o compromisso que iríamos trabalhar para isso. Se assumimos diretamente que era a subida? Não. Só queríamos fazer história e felizmente conseguimos isso.

O Vizela até nem começou muito bem a época, nos primeiros oitos jogos só tinham duas vitórias, mas depois embalaram e não voltaram a perder.

No início tivemos só duas vitórias e antes desta série de invencibilidade foram três derrotas seguidas. O segredo foi termos continuado a acreditar em nós mesmos e na equipa técnica, no clube e nas ideias com que estávamos a trabalhar, com toda a envolvência que o grupo e a direção proporcionava.

Nunca desconfiar de ninguém. A família que construímos no balneário foi muito importante para isso.

Foram 26 jogos seguidos sem perder, um registo que foi muito falado. Sentiam a pressão acrescida da luta pela subida e para manter o registo de invencíveis até ao fim da época?

Nunca senti o balneário em si com essa sensação de pressão. Focámo-nos muito no presente, o nosso objetivo era ser melhores todos os dias. Não estávamos preocupados com quando é que a derrota ia chegar, se íamos ou não subir.

A preocupação era melhorar o nosso jogo e ganhar os três pontos. Acho que aí pode ter estado o segredo para a nossa subida e para a série invencível. Não nos focámos em objetivos a longo prazo, encarámos todos os jogos da mesma forma. Acho que não pensar demasiado à frente foi chave.

Mas terminada a época já tiveram oportunidade de olhar para trás e para esse registo que fica de 26 jogos seguidos sem perder...

Todos comentámos que é um registo muito bom. Não só ficou na história do Vizela, mas como da II Liga. Entrámos no pódio das equipas com mais jogos seguidos sem perder. Foi muito positivo, só tivemos real noção quando terminou o campeonato.

Qual o papel do treinador Álvaro Pacheco nesta temporada?

O treinador tem um papel fundamental. Quer queiramos, quer não, a base e as ideias são dele. Mais mérito ainda porque conseguiu meter dois anos seguidos 20 e tal jogadores a acreditar numa ideia. Isso foi muito positivo. Manteve a estabilidade da época anterior, as dinâmicas tornaram-se muito boas. Tem um papel fundamental.

Há um gosto especial na vossa conquista por grande parte do plantel ter vindo do Campeonato de Portugal para a II Liga?

Sim, essa estabilidade que o "mister" Álvaro Pacheco e a direção conseguiram dar foi muito positivo. Conseguimos demonstrar que existe qualidade nos escalões inferiores. Por vezes, não é preciso despachar 20 jogadores, porque há qualidade. A estabilidade e as ideias são muito importantes.

No último jogo da temporada, o Vizela jogou com o Vilafranquense, que precisava de pontos para garantir a manutenção. Na segunda parte, estavam empatados e o Arouca a vencer, o que colocaria o Vizela no terceiro lugar. Sentiram alguns nervos nesse jogo por causa da indecisão, ou sempre estiveram confiantes que iriam vencer?

Não lhe posso dizer que sentimos nervos. Nunca soubemos o resultado do Arouca, porque focámo-nos só em nós. Isso permitiu-nos estar tranquilos.

Claro que houve a ansiedade normal do jogo porque eles empataram duas vezes, mas nada por termos caído para terceiro. Sabíamos que era um jogo importantíssimo, valia muito mais do que três pontos. Lidámos bem com isso, não surgiu o nervosismo em excesso, o que foi positivo.

O que pode conseguir o Vizela na próxima época?

Ainda não sei, estamos de férias, ainda não conversámos sobre isso, começamos a falar disso mais na pré-época, mas acho que podem esperar um Vizela à imagem dos últimos dois anos, com personalidade, intensidade, agressividade e alma. Se mantivermos a equipa técnica e a estrutura penso que não vai mudar muito. A exigência é diferente, mas a qualidade poderá ser a mesma.

O Samu esteve em grande plano nesta época na II Liga. Acha que pode manter o nível individual?

Vou fazer por isso, sem dúvida. É um dos passos que quero dar. Tive um nível positivo na II Liga, mas agora é voltar a estar bem individualmente, juntamente com o coletivo. Sem dúvida que é um dos meus objetivos. Ainda não consegui na I Liga ter uma época de afirmação e espero que seja o próximo ano.

Recebeu vários prémios de jogador do mês. Considera que foi o melhor jogador da II Liga esta temporada?

Não sei se fui o melhor, o que sei é que foi um ano muito positivo para mim, fui o melhor jogador do mês duas vezes. Mas o Samu não joga sozinho, quando a equipa está bem, fica mais fácil chegar aos prémios individuais. Se fui o melhor, ou não, sei que dei o meu melhor, mas talvez um dos melhores.

Foram nove golos e oito assistências. Está surpreendido com estes números?

Não me surpreendem, porque trabalho sério todos os dias e o meu objetivo é fazer o melhor possível. Claro que sei do meu potencial e da minha qualidade, mas a algumas pessoas pode ter surpreendido. É para isso que todos trabalhamos. Foi um ano bom para mim, mas porque o Vizela também proporcionou que isso fosse possível, acreditaram em mim, junto com o treinador. Com confiança é mais fácil atingir estes números interessantes.

Voltando atrás no tempo, passou pela formação do FC Porto. Foi dispensado?

Comecei a jogar aqui na minha terra, em Mozelos, que não tem futebol. Joguei no Paços de Brandão, tive oportunidade de ir para o Porto e qualquer miúdo quer jogar no Porto.

Estive lá quatro anos, mas acabei por ser dispensado. Disseram que não iria ter muitas oportunidades como um jogador quer nos sub-15 e acharam melhor eu sair. E aí fui para o Boavista.

Esteve muitos anos no Boavista, mas nunca teve grandes oportunidades na equipa principal. Guarda essa mágoa?

Quando estamos lá, ao fim de cada ano, pensamos "mais um ano que passou sem aquela oportunidade e aquela pessoa que acreditasse em mim".

Fica essa "magoazinha", de que podia ter sido eu, podia ter apostado em mim, mas olhando para trás tinha de ser assim. Isso tornou-me num jogador mais forte, com as adversidades consegui crescer e evoluir mentalmente. Ajudou-me até nesta época nos momentos mais difíceis.

Fale-me da decisão de deixar o Boavista e assinar em definitivo pelo Vizela. Tinha outras propostas?

Terminei contrato com o Boavista, decidimos tomar rumos diferentes e surgiu o Vizela. Tinha outras propostas, mas o projeto do Vizela era interessante, como se confirmou. A estrutura e organização do clube no Campeonato de Portugal tinha tudo para ser favorável.

Todos tínhamos contratos profissionais. No Campeonato de Portugal nem todos têm contratos profissionais, noutros só alguns jogadores têm. No Vizela, todos tínhamos.

Eramos uma equipa profissional num campeonato amador e isso foi muito positivo. A chamada do "mister" Álvaro Pacheco também foi importante, foi meu adjunto no Boavista, quando me ligou disse que acreditava em mim, sabia do meu valor e correu tudo bem.

Na época anterior o Vizela chama à atenção ainda no Campeonato de Portugal num jogo da Taça de Portugal com o Benfica. Estiveram a vencer, mas com uma expulsão acabaram por ceder na segunda parte. O Samu marca o golo nesse jogo. Foi especial?

Marcar golo é sempre especial, numa eliminatória da Taça contra o campeão nacional ainda mais. Mas também porque foi um jogo em que tendo uma boa prestação, o nosso pensamento torna-se diferente. Acreditamos mais, que é possível chegar mais a cima. Marcar é muito bom, com o estádio cheio, foi incrível.

Sente que a partir daí começaram a tomar mais atenção ao Vizela?

Antes desse jogo já estávamos num bom percurso, mas com pouca visibilidade. O jogo com o Benfica veio dar-nos essa visibilidade que acho que merecíamos, passaram a seguir o Vizela com mais atenção.

Em 2016 foi treinar ao Barcelona. Como surgiu essa oportunidade?

Depois de um empréstimo no Fafe, correu-me bem e surgiu a oportunidade do Barcelona estar interessado em fazer uma espécie de captações com a equipa B deles. Era muito jovem ainda. Não me cruzei com ninguém da equipa principal, mas joguei com o Aleña, o Cucurella, que era júnior ainda.

O que lhe reserva o futuro? O objetivo é ficar em Vizela?

Tenho mais um ano de contrato, mas todos sabemos que no futebol tudo pode acontecer. Estamos na I Liga, o Vizela tem boa estrutura, boa organização e dá condições aos jogadores. Se surgir uma hipótese boa para todas as partes, logo se vê. Tudo pode acontecer, mas não estou preocupado. Sinto-me bem no Vizela.

Sabe se tem interessados?

Não sei, sinceramente. Estamos de férias, o campeonato acabou há pouco. Ainda não tenho grande "feedback" nesse sentido.

Que objetivos tem para o resto da carreira? Chegar a um grande?

Sim, penso que é o sonho de qualquer jogador representar um grande em Portugal. É um dos objetivos. A curto prazo é afirmar-me na I Liga, onde possa ser aposta regular. Depois, quem sabe, representar um grande.

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