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Terra Santa. Famílias cristãs estão “prontas para emigrar” à procura da paz

02 jun, 2021 - 11:00 • Olímpia Mairos

O conflito entre Israel e o Hamas agravou a já difícil situação na Terra Santa. Sem turistas, com as fronteiras e os aeroportos fechados, os cristãos sentem-se abandonados.

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“Que Deus resolva este conflito, pois já não se aguenta”. O apelo surge na voz de Nicolas Ghobar, um cristão e artesão em Belém, mas é feito em nome da comunidade cristã, vítima de mais uma guerra sangrenta entre Israel e o Hamas.

O artesão, conhecido dos portugueses por colocar na época de Natal peças de artesanato com motivos religiosos à venda em Igrejas no Chiado, em Lisboa, descreve um ambiente de desespero entre os cristãos que dependem do turismo para sobreviver e que viram a sua situação, que já estava muito frágil por causa da pandemia do novo coronavírus, agravar-se com o conflito armado que durou 11 dias em maio.

“Sei de 47 famílias cristãs da cidade de Belém [que estão] prontas para emigrar à procura de um novo horizonte”, afirma Nicolas Ghobar à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, acrescentando que “só estão à espera dos papéis”.

A guerra entre Israel e o Hamas, entre os dias 10 e 21 de maio, provocou cerca de três centenas de mortos e mais de dois mil feridos e deixou um rasto de insegurança muito grande.

Segundo Nicolas Ghobar, o conflito armado veio agravar ainda mais a situação extremamente difícil que se vive na região.

“Isso é particularmente visível na cidade de Belém, cuja população depende, em cerca de 90% do turismo. E a esmagadora maioria dessa população pertence à comunidade cristã”, esclarece.

O artesão lembra que “o Médio Oriente não é [uma região] estável. Na Terra Santa, as religiões lutam pela Terra Prometida que Deus lhes deu e os cristãos sentem-se abandonados. Antes e durante a Covid”.

Mas um ano sem turistas e “ficamos de joelhos”

Nicolas Ghobar fala ainda de uma comunidade pequena que “está de joelhos”, impotente perante o rumo dos acontecimentos.

“Somos uma minoria, estamos a falar de quase 2% de 15 milhões [de habitantes]… Isto está difícil, sem turistas, com fronteiras e aeroportos fechados, ficamos de joelhos. E com esta guerra será um ano mais sem turistas”, lamenta o artesão.

A situação que se vive na região está a preocupar também a Fundação AIS. O presidente executivo internacional, Thomas Heine-Geldern, alerta que, “mais uma vez, a hostilidade e as trevas invadiram este lugar sagrado e Jerusalém, uma cidade sagrada para judeus, cristãos e muçulmanos, está novamente cheia de violência e dor”.

“Tanto sangue foi derramado lá, tantas esperanças foram enterradas, tantas vidas foram destruídas”, lamenta Heine-Geldern, assinalando que os próximos dias “dirão se o cessar-fogo será mantido”.

Perante o tempo de incerteza, o presidente executivo internacional da AIS pede a “todos os benfeitores que se unam ao pedido do Santo Padre, Papa Francisco, e do Patriarca Latino de Jerusalém, Arcebispo Pierbattista Pizzaballa, para rezarem pela paz e justiça na Terra Santa”, para que “o Espírito Santo ilumine todos os tomadores de decisão em Israel, nos territórios palestinos e ao redor do mundo, de forma a se encontrar uma maneira de superar a divisão e o ódio”.

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