Tempo
|
A+ / A-

Dia da Criança

“Não devíamos ter bebés institucionalizados”

31 mai, 2021 - 18:38 • Ângela Roque

Campanha "Primeiros Anos a Nossa Prioridade" quer sensibilizar políticos, e sociedade em geral, para a aposta que tem de ser feita nos 0-3 anos. Iniciativa decorre em nove países europeus onde foram detetadas fragilidades ao nível das políticas para a infância. Portugal destaca-se por ainda ter um elevado número de crianças retiradas às famílias que ficam a viver em instituições.

A+ / A-

A campanha "Primeiros Anos a Nossa Prioridade" foi lançada em março, no âmbito de uma iniciativa mais alargada, a nível europeu, intitulada "First Years, First Priority". Em Portugal já mobiliza mais de 20 instituições, católicas e não só, e é liderada pela Fundação Nossa Senhora do Bom Sucesso (FNSBS).

“Trabalhamos há 70 anos nesta área da infância, estamos muito sensíveis ao tema e aceitámos com gosto liderar esta campanha na condição de que o faríamos com outras organizações que se quisessem associar”, explica à Renascença Paula Nanita, no Conselho Executivo da FNSBS.

O objetivo da iniciativa é alertar a sociedade e os decisores políticos para a importância de se proporcionar um bom início de vida a todas as crianças, sobretudo até aos 3 anos, tendo em conta que esta é uma fase crucial na formação física, mental e emocional de cada um. “É nestes primeiros anos que construímos os nossos fundamentos como pessoa, a nossa saúde ao longo da vida, muitas vezes o sucesso da nossa escolaridade e empregabilidade”, sublinha a mesma responsável, garantindo que “quer a campanha europeia, quer a campanha nacional o que procuram é conseguir pôr o tema na agenda, a importância dos 0-6 anos, mas muito especialmente dos 0-3, e com isso conseguirmos influenciar quer políticas, quer investimentos”.

A campanha está a decorrer em nove países da Europa onde foram detetadas fragilidades ao nível das políticas para a infância: Bulgária, Hungria, Sérvia, Roménia, mas também Finlândia, Espanha, França, Irlanda e Portugal. Se os países da Europa Central e de Leste “estão a ter um impacto forte com as populações refugiadas”, em Portugal um dos principais problemas detetados é o elevado número de crianças institucionalizadas, que não têm oportunidade de crescer numa família.

“Hoje a ciência sabe muito mais sobre os primeiros anos de vida do que sabia há 20 ou 30 anos. Já não estamos no campo da intuição, estamos no campo da certeza científica, e o que sabemos da ciência hoje é que não devíamos ter bebés institucionalizados”, garante Paula Nanita. E em Portugal os dados que existem não são animadores. “Das crianças que são retiradas às famílias de origem, por motivos de risco ou de negligência, só três por cento é que estão noutras famílias, todas as outras estão institucionalizadas. Isto é uma coisa em que o país contrasta muito com o que já é o conhecimento e a prática europeia, e é um dos motivos pelos quais Portugal chama atenção nesta divergência de indicadores. Para além de também termos poucos dados publicados e sistematizados sobre os 0-3 anos”, refere.

“O futuro também se joga aqui”

A campanha ‘Primeiros Anos a Nossa Prioridade’ foi lançada em março para durar seis meses. Em Portugal tem o alto patrocínio do Presidente da República, e já congrega cerca de 20 entidades públicas, privadas e do setor social, que trabalham nesta área ou se precupam com esta temática.

“Temos a Cáritas, a União das Misericórdias, a CNIS, que agrega todas as IPSS – e são mais de 2.200 organizações –, a Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo, a UNICEF, a Fundação do Gil, a Fundação Aga Khan, a Associação Nacional de Intervenção Precoce na Infância e a Associação Portuguesa dos Educadores de Infância”, exemplifica Paula Nanita, que acredita que até Setembro mais instituições irão juntar-se, e que a partilha de ideias e experiências ajudará a apresentar propostas, até porque um dos objetivos desta campanha é influenciar os decisores políticos e os líderes sociais a investirem mais e melhor nas crianças. “Temos previsto um encontro na Gulbenkian no dia 17 de setembro e queremos já levar o sumo do que fôr este caminho de seis meses e apresentar propostas concretas. Não é só para os políticos, é para o país!”, garante.

Esta responsável acredita que a campanha dará “bons frutos”, porque embora “o país não tenha estado completamente estagnado nesta área, todos vamos querer ir mais longe, ter as nossas crianças cuidadas com o carinho, a atenção e os recursos que lhes podem dar a oportunidade de que a vida seja completamente diferente, a vida de cada um deles e a nossa vida em comum, em sociedade. Não tenho nenhuma dúvida. É uma oportunidade de ouro. O futuro – das crianças e o nosso futuro coletivo – também se joga aqui”.

A campanha pode ser acompanhadas através do site.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

Destaques V+