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D. Jorge Ortiga aguarda por substituto. "Ideal" para Braga será "um bispo que dê perspetiva de futuro"

17 mai, 2021 - 07:30 • Henrique Cunha

D. Jorge Ortiga é arcebispo de Braga desde 1999, pelo que soma mais de duas décadas em funções. De episcopado são mais de 30 anos: é o bispo há mais tempo em funções na Igreja portuguesa. Pediu a resignação e está "sereno", mas "com pressa" de sair. Ainda não pensou no que fará depois de ser substituído.

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D. Jorge Ortiga diz à Renascença aguardar "com pressa", mas "serenamente" o momento de saída de funções à frente da arquidiocese de Braga.

"Os 75 anos já lá vão", desabafa, reafirmando, todavia, o seu empenho: "Procuro, naturalmente, fazer aquilo de que sou capaz e aquilo que me parece que a Igreja diocesana necessita."

"O ideal para a diocese é que fosse dotada de um arcebispo que desse, até, uma outra perspetiva de futuro", diz, neste entrevista, em que fala da sua sucessão e do que perspetiva para depois da sua retirada.

D. Jorge lidera a arquidiocese desde18 de Julho de 1999, data em que substituiu D. Eurico Dias Nogueira. Soma, assim, mais de duas décadas em funções. De episcopado são mais de 30 anos: é o bispo há mais tempo em funções na Igreja portuguesa.

O senhor arcebispo primaz de Braga está em período de resignação. Manter-se-á no cargo enquanto o Papa entender. Cumpriu com a sua obrigação de apresentar a resignação quando fez 75 anos e aguarda sem pressas pela decisão do Papa Francisco. É assim?

Eu aguardo com pressa, na medida em que os 75 anos já lá vão. Agora, aguardo serenamente e com o sentido de responsabilidade. Em cada momento que passa, procuro, naturalmente, fazer aquilo de que sou capaz e aquilo que me parece que a Igreja diocesana necessita. Agora, tenho que reconhecer que, efetivamente, o ideal para a diocese é que fosse dotada de um arcebispo que desse, até, uma outra perspetiva de futuro.

Penso que nada estará a faltar. E, se Deus me der vida e saúde, continuará também a não faltar. Penso e desejo com os meus colaboradores. Porque, se este ano estamos a querer construir uma Igreja sinodal, eu creio que esta Igreja é uma Igreja que envolve a todos, a começar pelos os colaboradores mais próximos. Essa é uma grande verdade. E penso que é isso que está a acontecer nas várias áreas. Desde a catequese, à liturgia, desde a dimensão socio-caritativa, quer da parte de leigos quer da parte de sacerdotes. Não deixamos de ter sonhos e de ter projetos.

O senhor arcebispo já pensou no momento seguinte ao da sua retirada?

Não. Desde os primeiros anos do meu sacerdócio, habituei-me a procurar - não digo que o consiga sempre - a viver a vontade de Deus em cada momento que passa. Cada momento que passa vai-me dizendo. Portanto, nesta altura, ainda não me debrucei sobre aquilo que, efetivamente, poderei vir a fazer. Na altura própria, pensarei.

Procurarei não o fazer sozinho porque isso também caracteriza a minha vida que, desde o principio, quis que que fosse uma vida interpretada em unidade. E, porventura, passamos uns diazinhos de algum descanso para recomeçar, tentando oferecer a Deus e à Igreja os muitos ou poucos anos que me faltam.

Estará para breve a sua substituição? Qual é a sua perceção?

Também não formulo juízo. Está tudo nas mãos da nunciatura. A nunciatura comunicará a Roma, à Congregação dos Bispos, e, quando o Papa assim o entender, estou disponível e espero, como dizia no início. Agora, não faço qualquer ideia, qualquer juízo e procuro também não adiar o meu compromisso. Quero estar em cada momento que passa serenamente, com alegria dentro das capacidades que tenho até ao último momento em que, naturalmente, vier outro arcebispo que tome posse dos destinos da diocese.

O que é que significa ser o bispo há mais tempo em funções em Portugal?

Eu sou bispo quase há 33 anos. Digo assim, entre nós: é há tempo demais. Foi demasiado cedo, não sei como nem porquê. Como arcebispo, são já 22 anos a completar proximamente. Provavelmente, muito tempo, quem sabe, talvez, tempo demais. Porque, quer queiramos quer não, nós temos o nosso ritmo, temos a nossa maneira de ver os problemas e vamo-nos habituando e as pessoas vão-se também habituando a nós. Mas, seja como for, aquilo que importa é, dentro da Igreja que somos, estarmos sempre disponíveis para aquilo que Deus quer, para aquilo que o Papa vai sugerindo. E isso é que é o fundamental. E fazendo sempre o melhor que nos é possível.

São muitos ou poucos anos, a nossa vida é aquilo que é. Para mim, foi um tempo longo e espero que tenha sido um tempo útil para a Igreja e para este povo do Minho, de que eu gosto, pois nasci aqui, passei a minha vida toda aqui. Identifico-me com este povo. Este povo que, às vezes digo, que está um pouco longe das decisões da politica, mas um povo com uma presença muito concreta na sociedade portuguesa e também na Igreja, com a sua caracterização. É para ele que procurei viver estes 33 anos e é para ele que continuarei a querer viver nos anos que Deus me der.

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  • Ivo Pestana
    20 mai, 2021 Funchal 16:09
    Sou cristão e com respeito, digo a D.Jorge, que os problemas da Igreja resumem-se a dois grandes fatores. O Vaticano e as famílias. O Vaticano tem de ser exemplo, mais santo, evoluir e abrir-se, mudando algumas regras humanas. Quanto às famílias, já não rezam juntas, cada um está no seu mundo, na Internet, pensando não precisar mais do Divino. Também faz-me uma confusão tremenda, os sacerdotes não poderem casar e ter família. Assim como as coisas vão, caminhamos para uma Igreja de televisão e igrejas vazias. Peçam opiniões aos fiéis, pois algo tem de ser feito.

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