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Reportagem

Dia Internacional do Enfermeiro. Quando o humanismo é chamado a colmatar a falta de meios

12 mai, 2021 - 07:30 • Liliana Carona

Poucos profissionais terão estado tão presentes em todos os momentos da atual pandemia como os enfermeiros. Da prevenção ao tratamento das situações mais críticas e agora também na vacinação. No centro de saúde de Seia, há 23 enfermeiros para 25 mil pessoas que precisam de ser vacinadas contra a Covid-19.

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Não há folgas ou fins de semana no centro de saúde de Seia. Aqui, já foram vacinadas 10 mil pessoas, mas restam ainda outras dezenas de milhares.

“Não tive reação nenhuma. Levei as duas [doses] aqui no centro de saúde de Seia”, conta Alexandrina, de 92 anos, interrompida pela preocupação do filho.

“Quando te deram a pica, magoaram-te?”, pergunta. “Não, não senti nada. Para mim, os enfermeiros são sempre simpáticos, não tenho razão de queixa, já te disse que não me doeu nada”, responde a mãe.

O filho Jorge, de 66 anos, decalca as palavras da mãe: “efetivamente, se não fossem os enfermeiros, os doutores só não resolviam o problema. O enfermeiro é o segundo doutor, que está sempre ali; o doutor vai-se embora e fica ali o enfermeiro. É de louvar o trabalho dos enfermeiros em tempos de pandemia. Não chega o tempo para eles e nós agradecemos”, observa o utente do centro de saúde de Seia.

Ali, a equipa de 23 enfermeiros está sob a orientação do enfermeiro gestor Miguel Pereira, 57 anos. Tempos complicados, assume quem conhece a profissão há 33 anos.

“Continua a ser um processo muito trabalhoso. Temos cerca de 25 mil utentes de público alvo e logisticamente é muito difícil organizar isto tudo, vacinar toda a população de Seia”, revela, acrescentando terem criado, em parceria com o município de Seia, um centro de vacinação num pavilhão gimnodesportivo em S. Romão.

Mas a dificuldade maior continua a ser os recursos humanos, “porque não foram reforçados em nada”, diz Miguel, justificando que tem apenas uma equipa de 18 enfermeiros na Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados e 5 na Unidade de Cuidados na Comunidade.

“São 23 enfermeiros no todo. É pouco. Esse número será suficiente para uma situação normal, mas numa altura de pandemia, não. Reforçámos muito o serviço domiciliário, cheguei a ter três equipas de enfermagem na rua porque não podíamos abandonar os idosos”, recorda.

“Um enfermeiro também vai abaixo”

Sem fins de semana nem folgas, principalmente neste último mês, o enfermeiro gestor afirma que o processo de vacinação começou em janeiro e fevereiro, altura em que vacinaram todos os utentes de lares e respostas sociais (cerca de 1600 pessoas, entre utentes e profissionais).

Hoje, e depois de terem iniciado em março, a vacinação na população em geral, já chegaram aos 10 mil vacinados. “Muitas vacinas, o que é bastante bom, em relação aos recursos que são os mesmos. Chegámos a vacinar 500 pessoas por dia. Os enfermeiros estão a dar todo o esforço, não há folgas, nem fins de semana”, garante Miguel Pereira, que não se arrepende nem por um minuto da vocação que decidiu abraçar.

“Não me arrependo, andava um pouco perdido e fui para enfermeiro e ainda bem que fui. Temos de ser tecnicamente bons enfermeiros, mas o utente aprecia a qualidade humana do enfermeiro e a capacidade de interagir com o utente”, salienta.

Onde vão buscar forças estes enfermeiros? “Onde já não as encontramos, mas temos de procurá-las. A nossa equipa de enfermagem está 90% alocada ao processo de vacinação. Um enfermeiro também vai abaixo. Estou cansado e às vezes com receio de não conseguir dar resposta ao que esperam de nós, mas tenho notado no seio da minha equipa, interajuda, força, porque não tem sido fácil”.

“Não temos disponibilidade para fazer grandes comemorações; estamos na luta, estamos a trabalhar e a dar o nosso melhor e penso que isso é a melhor forma de assinalar o Dia do Enfermeiro. Servir os nossos utentes o melhor possível e tentar conjugar as necessidades a que temos de dar resposta”, conclui.

O Dia Internacional do Enfermeiro foi criado pelo Conselho Internacional dos Enfermeiros e a data escolhida remete para o aniversário de Florence Nightingale, considerada a fundadora da enfermagem moderna.

O Conselho Internacional de Enfermeiros (ICN) anunciou o tema para o Dia Internacional do Enfermeiro para 2021 (#IND2021): “Enfermeiros: Uma Voz para Liderar”. Com o subtema “Uma Visão para o Futuro dos Cuidados de Saúde”.

Annette Kennedy, presidente do ICN, referiu que o tema para 2021 evidencia que “a pandemia global de Covid-19 mostrou ao mundo o importante papel que os enfermeiros desempenham para manter as pessoas saudáveis ao longo da vida”.

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